Ninguém precisa ser um especialista para ver que o mercado de jogos multiplayer tem estado em uma situação complicada por um tempo. No meio de tantos projetos saindo ou sendo anunciados ao mesmo tempo (alguns sequer vendo a luz do dia), a verdade é que tem sido cada vez mais difícil impressionar os jogadores com ideias inéditas ultimamente.
Basta dar uma olhada no Fortnite, um título que antigamente era visto com um Battle Royale padrão, agora virou uma plataforma similar ao Roblox onde qualquer um pode fazer praticamente começar a ser um game designer e misturar diversas características de outros jogos.
Embora seja claro que Wildgate nunca esteja tentando atingir esses mesmos patamares, sua filosofia ainda é parecida já que ele se inspira em vários outros grandes nomes afim de tentar e se distanciar da competição.
A melhor maneira de descrever como as partidas acontecem é justamente indo mais a fundo nos pilares dos outros jogos que serviram como inspiração para o molde de Wildgate.
Em sua essência, o jogo é um tipo meio híbrido de Battle Royale. Jogadores são teleportados para um mapa chamado de Orla onde eles vão precisar explorar, coletar recursos e ficar mais fortes se quiserem derrotar outras equipes. Tudo bem conforme os padrões que a gente já está cansado de ver por aí.
A pegada aqui é que o objetivo principal não é mais ser o último cara vivo entre cem outros jogadores, mas sim ser a equipe que encontra e escapa do espaço com o Artefato, um item que se você prestar atenção basicamente funciona como uma bandeira de CTF (capture the flag).
É aqui que as coisas começam a ficar mais interessantes e o jogo começa ter uma pegada quase Indiana Jones, se tornando uma corrida de caça ao tesouro ao invés de um mata-mata tradicional.
A forma como os prospectores (título dos personagens) chega na Orla também é interessante pois cada equipe escolhe uma nave que vai diferir em função, tamanho e velocidade.
As naves são importantes não pelo fato de serem seu método de transporte durante as partidas, mas também porque elas servem como uma base de operações. Se forem destruídas então é game over para todo esquadrão.
Isso acaba criando uma ênfase na exploração, mas tira um pouco daquela frustração de se passar minutos coletando as melhores armas em um Battle Royale, só para tomar um tiro de costas e perder todo seu progresso.
Claro que boa parte dessa dinâmica é justamente melhorar a sua nave, mas como cada uma delas já tem suas próprias vantagens e desvantagens, começar um jogo do zero acaba sendo menos cansativo.
Wildgate então acaba tendo uma pegada meio Minecraft na sua fórmula, você vai estar sempre entrando em alguma mina espacial…. ou fábrica espacial, matando aliens e soldados em todo canto, coletando não só novas armas, mas também cuidando da sua nave ao mesmo tempo.
Já que o jogador vai explorar o mesmo mapa (que é menor do que em um Battle Royale tradicional) que quarto outras equipes, é extremamente importante que ele consiga fazer com que sua nave se torne uma fortaleza o mais rápido possível.
Muitas das partidas acabam sendo ditadas pelas equipes que focam em priorizar recursos como sistemas e defesa e gasolina ao invés daqueles que apenas saem correndo tentando achar uma arma melhor ou algo do tipo.
Dito isso, as naves não são as únicas estrelas do jogo. Similar a jogos como Overwatch e Marvel Rivals, Wildgate também tem diversos personagens, cada um tendo sua função voltada para um nicho específico com vantagens e desvantagens.
Tem o típico androide simpático e que nesse caso consegue navegar pelo espaço sem uso de oxigênio, o ‘’médico’’ que cuida dos reparos da nave em uma gameplay até semelhante ao modo Zumbi de Call of Duty, o ninja que consegue ser sorrateiro e por aí vai.
É a típica pirâmide de tanques, curandeiros e causadores de dano que a gente já tá cansado de ver, bem coisa de MMORPG.
Combinando os oito personagens e quatro tipos de naves disponíveis no lançamento vão com certeza fazer com que boa parte da comunidade acabe estudando melhores composições e estabelecendo metas, agradando aqueles que querem um cenário mais competitivo.
Apesar de ter um tutorial meio longo e até de cara um pouco complicado, a premissa de Wildgate é bem simples e fluida. É uma caça ao tesouro com o porém de que existem outros 15 jogadores tentando te matar ao mesmo tempo.
Um dos momentos mais divertidos de uma partida é justamente quando uma das equipes consegue encontrar o Artefato e ai o jogo acaba virando uma corrida entre aqueles que tem o tesouro tentando escapar e os demais prospectores que precisam impedir a fuga enquanto tentam roubar a vitória para si mesmos.
Isso acaba mudando um pouco aquela dinâmica de um Battle Royale tradicional onde o final de uma partida geralmente é mais lento onde você tem 2 ou 3 jogadores escondidos esperando que alguém passe despercebido na sua frente.
O endgame de Wildgate acaba sendo bem mais divertido que de uma partida de Fortnite ou Warzone. Infelizmente, o maior problema do título não vem das suas mecânicas, performance, balanceamento ou qualquer coisa do tipo, mas sim do fato de que ele é um jogo multiplayer e pago ao mesmo tempo.
Mesmo na semana de lançamento, a maior parte do meu tempo com o jogo acabou sendo parado na fila de matchmaking, as vezes esperando até mesmo vinte minutos tentando encontrar uma partida.
Até existe uma opção de cancelar o pareamento com outros jogadores na equipe e isso teoricamente ajuda um pouco a ‘’encher’’ as partidas mais rapidamente, mas fazer isso é basicamente dar um tiro no próprio pé antes mesmo de começar.
Esse não é um jogo como PUBG ou Fortnite onde se você for um jogador bom de mira e conhecedor do mapa da temporada até dá para ganhar de esquadrões completos.
Boa parte da sua jogatina em Wildgate é coletando recursos em ‘’dungeons’’ e voltando para a nave. É tudo balanceado com outros quatro jogadores em mente, fazer toda essa tarefa solo só vai demandar três vezes mais tempo além de tornar toda dinâmica bem entediante.
Quando você adiciona o fato de que o jogo ainda tem uma loja premium em cima do fato de que ele já custa 120 reais logo de cara, acaba sendo difícil convencer aqueles seus amigos que poderiam gostar do título.
Claro que pedir para um jogo virar ‘’free to play’’ acaba tendo desvantagens também, mas é inegável que existe uma barreira que complica as coisas antes mesmo do jogo começar.
O título em si é ótimo, e como eu disse anteriormente não tenho muito o que reclamar. Ele lembra bastante muitos títulos criativos lançados pelo final dos anos 2000 como Team Fortress 2, são ideias criativas que não apelam para necessariamente nada muito demandante.
Toda inspiração que os desenvolvedores extraíram de outros títulos encaixou perfeitamente bem, a vibe de caça ao tesouro é excelente e as mecânicas funcionam do modo como se espera…. quando você finalmente consegue achar uma partida.
Wildgate (infelizmente) não tem o mesmo alcance de outros jogos premium como Diablo IV e Destiny 2 (comparações feitas apenas por terem modelos monetários parecidos), e considerando que o jogo está sendo lançado na segunda metade de 2025 acaba sendo possível que ele fique sufocado entre outros grandes nomes.
Até existe um modo CO-OP vs IA que acaba aliviando a necessidade de se encontrar 15 outros jogadores, mas na minha experiência (e honestamente falando, boa parte da minha jogatina foi aqui) é uma modalidade praticamente morta.
A IA parece que não faz nada e eu acabei passando boa parte do tempo sentindo que estava brincando de Minecraft coletando recursos e depois fugindo do espaço sem dificuldade alguma. Para bem ou para o mal, esse é um jogo que só funciona 100% quando é realmente jogado com outras pessoas.
O melhor dos cenários é que Wildgate se torne um sucesso para justamente manter todas essas ideias criativas vivas, já que como eu venho dizendo, o jogo em si é ótimo. É uma boa pedida para quem só quer chamar uns amigos e ter umas sessões multiplayer divertidas no final de um dia de trabalho.
Se esse acabar sendo o caso e o jogo continuar sendo bem cuidado (já foi anunciada uma atualização com mais conteúdo enquanto escrevia essa análise) então talvez esse sejam bons sinais de que as coisas deram certo…, mas com tantos problemas de pareamento durante o começo da vida útil do jogo e uma barreira de entrada tão grande, Wildgate acaba se tornando uma indicação complicada.
Wildgate está disponível para PS5, Xbox Series e PC com legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Dreamhaven.