Não há nada mais belo do que jogos independentes que fazem jus ao seu potencial. Em uma indústria cada vez mais obcecada com extrair cada centavo possível dos jogadores para justificar experiências progressivamente maiores e com custos escalonando em ritmo insustentável, 2025 vem provando que a grande beleza reside, na verdade, nas experiências que não só sabem o que querem entregar, mas o fazem com um carinho e dedicação de fazer inveja a equipes gigantescas.
É justamente aqui que Eriksholm: The Stolen Dream se encaixa. Mesmo com o (relativo) vácuo que segue existindo dentro do universo de jogos de Stealth, ainda que suas mecânicas sejam bastante presentes em todo tipo de jogo, o título de estreia da desenvolvedora sueca River End Games, composta por uma série de ex-desenvolvedores AAA, principalmente da DICE, busca entregar algo ainda mais diferenciado do que costumamos ver.
Focado em uma narrativa rica e uma ambientação bastante única e com uma clara mensagem que ele busca passar aos jogadores, é um título que se passa em um universo que, a cada passo dado, tenta te sufocar, dificultando seu avanço e exigindo do jogador tanto planejamento quanto capacidade de reação em tempo real, sempre com um de dois resultados: ou você se esgueira e sobrevive ou você morre.
Em Eriksholm o jogador assume o papel da jovem Hanna, uma corajosa e singela garota que se vê envolvida em uma estranha conspiração envolvendo o seu irmão, Herman, que desapareceu misteriosamente e agora está sendo investigado pela polícia, uma força estatal existente com uma única intenção: controlar e oprimir os mais pobres. Com Herman desaparecido, Hanna vira seu novo alvo, o que a força a fugir e partir em uma jornada em busca do seu irmão e da verdade por trás do seu desaparecimento.
Uma das grandes (e muito bem-vindas) surpresas de Eriksholm: The Stolen Dream é a qualidade da narrativa entregue aqui. Não só ela é a parte mais importante e central do jogo, mas ela o entrega com cutscenes muito bonitas, incluindo um belo trabalho de motion-capture e dublagem, mesmo considerando que é um jogo com visão totalmente isométrica. O mundo parece vivo durante a exploração, com personagens conversando e revelando mais sobre si, suas motivações e sobre o mundo, mas também dando dicas valiosas sobre como avançar pelo mundo, ajudando bastante na imersão do título.
Isso é bastante enriquecido pela qualidade visual do título. O mundo é muito bem construído, com cenários únicos e bastante interessantes, cada área tem um design próprio cheio de personalidade que te faz querer prestar atenção em cada detalhe, mesmo com a câmera mais distante e o constante uso de sombras, e o mundo como um todo te imerge nele de maneira bem natural (o que só é enriquecido pela ótima trilha sonora do título). Felizmente, apesar do jogo de sombras necessário ao título, ele se vale da boa e velha técnica de usar contornos coloridos para os personagens, evitando que o jogador se perca.
Em relação ao gameplay, o foco aqui é inteiramente no stealth. Você precisará avançar pelos mapas se escondendo dos guardas, evitando patrulhas inimigas e fazendo todo o possível para não ser detectado. Afinal, ser visto é um game over automático e você precisará começar de novo do último checkpoint. Tudo isso coloca o jogo em um constante ritmo de parar, observar, planejar e executar, tudo da forma mais metódica e controlada possível já que o perigo está em todo canto e paciência é condição sine qua non para avançar, geralmente escondido nos vários pontos mais escuros dos mapas.
Apesar do jogador constantemente se sentir mais vulnerável ao longo da experiência, você não estará totalmente incapaz de agir, já que o jogo te dá algumas ferramentas com as quais trabalhar para facilitar sua vida. Hanna possui um soprador de dardos que a permite colocar inimigos para dormir. Alva e Sebastian, uma de seus dois companheiros de jornada, são capazes de escalar canos e usar um estilingue para distrair com o barulho ou destruir lanternas. Já Sebastian, o terceiro membro da equipe, consegue estrangular inimigos e nadar. Com as ferramentas disponíveis para cada um, uma série de rotas diferentes ficam disponíveis, com o jogo tendo múltiplas formas de avançar por cada área.
É impossível evitar que o jogo se enquadre em diversos momentos em um bom e velho “tentativa e erro”, mas isso faz parte e o jogo minimiza o “impacto” disso já que os saves são constantes e o jogo recarrega bem rápido. Isso se dá também pelo jogo casar seu gameplay de stealth com um alto volume de puzzles ambientais de dificuldade cada vez maior, com o jogador precisando saber executar bem cada passo com cada personagem para conseguir resolvê-los.
Um ponto altíssimo é que o jogo evita o tempo todo segurar a mão do jogador. Você tem ferramentas para conseguir enxergar para onde precisar ir e como ir, a exemplo de pássaros estrategicamente posicionados para te sinalizar algo, além da possibilidade de “analisar” a área ao seu redor com o apertar de um botão, mas não há um marcador constantemente te enchendo o saco para ir até certo lugar. Explorar lhe trará recompensas, como diferentes colecionáveis que dão ainda mais detalhes sobre o mundo, algo muito bem-vindo quando se considera o quão linear o jogo é.
Dito tudo isso, Eriksholm: The Stolen Dream é um jogo que faz mais do que o suficiente para entregar exatamente aquilo que ele se propõe com um nível de sucesso admirável. Do excelente level design que faz um excelente uso do seu mundo muito bem construído e imersivo à maravilhosa história rica e engajante com ótimos personagens, é um título que irá agradar demais aos fãs de jogos de stealth ao mesmo tempo em que é bastante acessível para quem busca começar a molhar seus dedos no gênero.
Eriksholm: The Stolen Dream está disponível para PS5, Xbox Series e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Nordcurrent Labs.
