Análises

Destiny 2: Os Confins do Destino – Review

Há pouco mais de um ano, estávamos aqui falando sobre aquele que seria o esperado desfecho do grande arco iniciado há praticamente oito anos em Destiny 2. The Final Shape (ou A Forma Final, em sua tradução oficial para o nosso idioma) foi uma das melhores e mais satisfatórias expansões deste universo cheio de muitos altos e alguns baixos.

Eis que não demorou muito para descobrirmos que a Bungie não estava pronta para deixar a dinâmica dos grandes lançamentos anuais de lado. Chega até nós, assim, The Edge of Fate, aqui chamado de Os Confins do Destino, que funciona como um misto entre epílogo para os eventos da história anterior, bem como um novo passo em direção a futuros possíveis para a franquia que teima em não descansar.

Ambientada em um lugar totalmente novo, o exoplaneta Kepler, esta nova jornada tem como maior diferencial a inclusão de uma mecânica chamada de Matterspark Orb, que basicamente nos torna uma espécie de faísca, uma orbe de energia capaz de transitar por portais únicos e espaços apertados, além de outras ações que vão de desvelando ao longo das 14 missões desta nova campanha.

Logo de início, posso dizer que tive sensações mistas com essa nova ferramenta, obviamente bastante exigida para superar chefes e tarefas secundárias por todo o planeta. Não deixa de ser surpreendente se transformar em uma bola de luz em terceira pessoa depois de todas as centenas de horas em Destiny 2, mas ao mesmo tempo, me pareceu uma inclusão despropositada com vistas a buscar um respiro criativo depois de tudo o que já foi feito.

Contudo, depois de pegar o jeito e entender que havia aqui um conteúdo realmente extra e complementar que se apoiava nesta nova forma, a aventura acabou fluindo mais do que eu imaginava, mesmo com o tradicional exagero em forçar o uso da novidade em tantos momentos onde eu só queria me aproveitar da build que demorei tanto para estruturar para enfrentar as hordas alienígenas como eu bem entendesse.

Outro ponto controverso acabou sendo a unidade narrativa aqui presente, por mais que as cenas de corte em CGI e todo o caráter técnico siga em um nível altíssimo de qualidade. Personagens novos estão muito longe de serem memoráveis, e todas as missões parecem, no que se refere ao enredo, requentadas e, pior, demandam um senso de urgência quase nulo. É um clima de fim de festa, onde parecemos ser aquele convidado que não percebeu que o que havia a ser aproveitado acabara.

Pelo lado positivo, Kepler é uma belíssima adição no que se refere aos visuais consistentes de Destiny 2. Compreendendo que emular mais biomas reconhecíveis não é o caminho há algum tempo no game, as distorções físicas agora encontram também variâncias temporais que adicionam valor total à produção. Visto sozinho, não há aqui grandes revoluções estéticas, mas como parte do conjunto, é uma adição muito bem-vinda.

O mesmo vale para inimigos, que se não trazem nada de muito novo às espécies que já cansamos de massacrar, tem aqui e ali algumas variações, como aqueles que podem planar usando sua própria versão de jetpacks, além dos que são protegidos por campos de força e exigem abordagens novas de combate usando o tal Matterspark Orb. Aqui, permitindo-me a parcialidade que me cabe, Destiny 2 tem as mecânicas de FPS que mais aprecio, então até quando é um mais-do-mesmo, continua sendo ótimo.

Junto com esta grande expansão narrativa, chega ao jogo uma revisão bastante profunda dos principais sistemas de distribuição de atributos e pontos de luz para os nossos equipamentos, então pode ser um choque enorme ver aqueles 1900, 2000 pontos de luz serem convertidos para 10 iniciais. É como se estivéssemos recomeçando a agregar valores às nossas armas e armaduras, mesmo mantendo parte das características acumuladas e incrementos únicos.

Por mais que alinhe tudo por uma régua pouco criteriosa, é a melhor oportunidade para renovações refrescantes. Se tudo o que você tem em mãos acabou caindo para um patamar próximo, talvez seja o momento de experimentar um novo conjunto, dar uma nova chance a uma classe de armas elementais diferente, quem sabe até testar algo que tinha ficado escanteado anos atrás.

Quando tudo isso é somado a novas armas, principalmente as exóticas, como o canhão de mão Graviton Spike; a sniper New Land Beyond; e o rifle Third Iteration, temos novas e interessantes possibilidades de composições matadoras, incluindo novos bônus especiais com certos conjuntos de armadura, como o acréscimo de velocidade gerado pela Aion Renewal, por exemplo.

Ainda assim, é difícil afirmar, como nos reviews anteriores, que The Edge of Fate é uma boa desculpa para retornar ao jogo, sobretudo para quem já o tinha deixado de lado algumas iterações atrás. É, sem dúvidas, um realinhamento para veteranos, adeptos desgarrados ou até novatos que, por ventura, tenham receio de chegar em algo com tanta coisa acumulada funcionando praticamente como um soft reboot que nivela a todos, mas nivela por baixo, sem um direcionamento claro para onde pretende ir a partir daqui.

Enquanto A Bruxa-Rainha conseguiu fazer com que o jogo se reinventasse e ganhasse um fôlego que parecia irrecuperável; A Queda da Luz foi aquela aliviada providencial; A Forma Final conseguiu ser o clímax épico para uma das maiores aventuras já contadas nos games. Qualquer um destes três momentos seria um ponto incrível de entrada e retomada, mas Os Confins do Destino, mesmo com essa intencionalidade de reinício, parece com uma cena pós-créditos alongada e cara. A sensação é ser um daqueles policiais que chegam no final de um filme de ação, quando os heróis já resolveram a encrenca sozinhos.

Olhando pelo copo meio cheio, há uma evidente estratégia a longo prazo sendo construída aqui. Para quem esperava que o passo seguinte à batalha épica e descomunal entre a Luz e a Escuridão seria um possível Destiny 3, os desenvolvedores seguem para outro caminho, dando mostras claras de que a atual plataforma deve sustentar uma nova fase dentro de si.

Com um plot claramente mais contido e menos ganancioso, a proposta é desacelerar e readquirir novas bases para o que vem adiante, mesmo que as maiores ameaças a serem confrontadas não estejam muito evidentes. Destiny 2: The Edge of Fate parece estar tateando o futuro, e curiosamente a trama que brinca com singularidades temporais é também simbólico deste movimento. É como os passos inseguros que a Marvel deu pós eventos de Vingadores: Ultimato, exemplo que parece trazer uma série de preocupações.

A inclusão de uma nova sessão chamada de Portal nos menus principais parece atender a essas inquietações, simplificando a loucura que se tornou a navegação do jogo nos últimos anos, com tarefas, missões, incursões, atividades sazonais, pontos de hub e tudo mais. Como uma verdadeira colcha de retalhos, tudo parecia uma coleção de colagens em camadas complicadas, que parecem melhor encadeadas agora por este espaço.

Permitindo que o jogador agora descubra onde que centrar seus esforços e intenções, faça a decisão e siga pelo foco desejado, Destiny 2 parece ao menos estar compreendendo os diferentes perfis que pode agregar sem se provar hostil para alguns e convidativo para outros. Se a meta é – e parece ser – se manter relevante por mais alguns bons anos, é fundamental estar aberto a expectativas diferenciadas de como vivenciar este universo de possibilidades.

Como parece evidente a esta altura do texto, minha experiência com Destiny 2: The Edge of Fate tem sido um tanto quanto conturbada. Eu realmente consegui me reconectar com o jogo nos últimos anos, mesmo não sendo dos maiores entusiastas do PvP. Em minhas andanças solo (ou ocasionalmente acompanhado por ilustres desconhecidos) por tantos lugares, realmente vejo no jogo a realização de algo inimaginável quando o primeiro foi anunciado lá no já longínquo ano de 2013.

O conjunto de todas as narrativas agora aglutinadas é excepcional e responde uma das maiores críticas da versão base inicial, da falta de aproveitamento daquilo que a lore criada tinha a oferecer. Mas junto com esse acúmulo narrativo, vem também a necessidade de altos investimentos de todos os tipos, o que certamente deixou muitos guardiões pelo caminho.

Como eu já disse, a jogabilidade de tiro em primeira pessoa aqui é simplesmente imbatível, e as diferentes mecânicas incorporadas são temperos pontuais que tendem ao exagero para se justificarem, como a mais recente. Por sua vez, os quesitos técnicos seguem espetaculares e, por vezes subestimados, transbordam um cuidado, incluindo a belíssima localização para o português brasileiro, o que deve ser difícil dada a constante atualização de conteúdos.

Assim, como parte do todo, a nova DLC parece não agregar tanto, e muito conteúdo linear em atualizações gratuitas já se provou mais instigante. Se vale ou não o investimento financeiro, a decisão é relativa e depende da expectativa do jogador, mas fica claro que ela só se justifica para quem já vivenciou tudo o que veio antes, nos últimos quatro ou cinco anos.

É curioso pensar que o reinício não faz sentido sem o fim do ciclo anterior, já que contraria a ideia de que deveria ser por definição. Mas por si, a narrativa não agrega muito e é desinteressante na maioria do tempo; a nova mecânica é utilizada em demasia em vários momentos; e o caminho que deverá vir no futuro parece ainda mais turvo. O futuro tem potencial para ser brilhante, mas o presente parece ser uma fase de transição bem menos interessante daquilo que já vimos antes.

Destiny 2: The Edge of Fate (Os Confins do Destino) está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series, Xbox One e PC (via Steam) com legendas e dublagens em português do Brasil. Esta análise foi produzida jogando no PS5 e realizada com um código fornecido pela Bungie.

Veredito

Ao se aproveitar do ótimo encerramento da saga em A Forma Final, Destiny 2: Os Confins do Destino funciona como um epílogo mediano e, ao mesmo tempo, como um reinício com boas possibilidades, mas inseguro. No fim, acaba sendo por si só um conteúdo menos interessante tanto no que se refere à narrativa, quanto no uso desleixado das poucas novas mecânicas introduzidas.

70

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