Os títulos dos jogos de Wonder Boy são um tanto confusos. Sério, eu até comecei a assistir a uns vídeos para tentar explicar parte da bagunça nesta introdução, mas vi que não conseguiria fazer isso de forma sucinta e acabei desistindo da ideia. Basta saber que cada jogo teve lançamentos diferentes pelo mundo e, claro, nomes diferentes, ao ponto de dois deles levarem o número três e o segundo jogo, Wonder Boy in Monster Land, ter sido lançado no Brasil como o mod oficial Mônica no Castelo do Dragão.
Na quinta entrada da série, o título já havia se transformado em Monster World IV (sim, o quinto jogo vem com o número quatro). É dele que vamos falar hoje — ou melhor, do remake dele que, seguindo a tradição, também lançou mão de um nome novo: Wonder Boy: Asha in Monster World.
Lançado para Mega Drive em 1994, o original só saiu do Japão em 2012, com um lançamento improvável para Wii, Xbox 360 e PS3, onde o joguei pela primeira vez. Em 2017, a série foi revisitada com um ótimo remake desenhado de Wonder Boy III: The Dragon’s Trap (que conseguiu mostrar muito bem como o original de quase 30 anos antes já tinha ótimo game design) e, no ano seguinte, ganhou até um novo jogo, o maravilhoso metroidvania Monster Boy and the Cursed Kingdom (mais misturas no título!).
Seguindo o revival da série, em 2021 foi lançado nosso jogo sob análise. Se faz quatro anos, por que uma review agora? O motivo é que o jogo acabou de chegar nativamente ao PS5 pela primeira vez e meus filhos e eu adoramos os três últimos jogos modernos que mencionei acima, então não pude deixar passar a oportunidade de tê-lo em mãos.
Primeiro, é preciso dizer que não há novidades na versão de PS5 em relação à de PS4. Eu até torci por tradução para português brasileiro para minhas crianças jogarem sem ficar me perguntando o tempo inteiro o que os personagens estão dizendo, mas não veio dessa vez e temos que dar conta com o inglês mesmo (The Dragon’s Trap e Monster Boy têm nosso idioma, mas os três jogos foram produzidos por desenvolvedoras e publishers diferentes). A dublagem, que é apenas parcial, também continua apenas em japonês, mas tem um charme que combina com o clima leve da aventura.
Segundo, adianto logo que Asha é um jogo bom o bastante, mas fica atrás dos outros dois tanto em gameplay quanto em design de níveis e visuais. É um jogo que envelheceu no sentido da falta de profundidade de seus sistemas e retornou em um remake com menos mudanças do que deveria ter.
Para quem quer apenas uma aventura colorida, bonitinha e plataforma de ação simples com um pouco de exploração, Asha cumpre seu propósito, inclusive sendo acessível para crianças em seu design geral e no fato de permitir selecionar uma dificuldade mais fácil em termos de combate (meu filho de seis anos está jogando assim).
A história é aquela simples e direta que já vimos tantas vezes: monstros estão assolando o reino e uma heroína inicia uma jornada para salvar a todos. Nossa protagonista é Asha, uma jovem simpática que deve ir até a Torre do Silêncio para provar para a tribo sua capacidade como guerreira. Lá, ela encontra um monstro, uma lâmpada mágica e um gênio que a leva para a capital do reino, onde recebe o pedido da rainha para que salve os quatro espíritos protetores.
Cada espírito está preso em uma dungeon e Asha viaja até elas nas costas do gênio da lâmpada. Ela também é acompanhada por Pepelogo, uma criatura redonda, azul e fofa que ajuda a aventureira ao adquirir gradualmente habilidades de planar, de pulo duplo e de realizar interações fora do alcance da moça.
A capital do reino funciona como um hub entre uma dungeon e outra, onde podemos comprar equipamentos e resolver algumas missões de NPCs. Não é muito, mas esses pequenos elementos de RPG distinguiam o jogo original em meio às massas de platformers de ação da época e contribuem para mantê-lo razoavelmente interessante para os dias de hoje.
O remake trouxe um bom diferencial de qualidade de vida: a capacidade de salvar o jogo a qualquer momento, contando com vários espaços de salvamento. O ancião encontrado pelo mundo para servir como ponto de salvamento foi mantido para poder brincar sobre como ele agora não tem mais um emprego e trocar umas palavrinhas como a garota.
O mais óbvio na renovação é o visual, que agora é em 2.5D, tem cenas animadas da história e adiciona mais um eixo de movimento em alguns locais. Enquanto os personagens e o conceito de reino de referência árabe foram bastante incrementados na mudança, ainda é perceptível o aspecto de baixo orçamento.
Dá até para dizer que parece um relançamento de jogo de PS2 em alta resolução. Isso não é inerentemente problemático, mas não deixa de ser uma oportunidade perdida de valorizar uma série clássica com uma produção de estética mais atraente. Eu gostaria ao menos de texturas mais elaboradas e sombras que ajudassem o 2.5D a passar uma noção de profundidade mais consistente.
Com sua simpática simplicidade, o que temos em Wonder Boy: Asha in Monster World é o suficiente para um tempo de diversão agradável. Só acho que a moça de cabelo verde merecia um pouquinho mais do que recebeu no lançamento restrito ao Japão nos anos 1990 e no remake moderno que perdeu a chance de aprimorar ainda mais essa aventura com jeitão de clássico vindo de tempos mais modestos.
Wonder Boy: Asha in Monster World está disponível para PS5, Xbox Series, PS4, Switch e PC sem legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Bliss Brain.