Antstream Arcade – o que é e como funciona

Antstream Arcade

Nostalgia: substantivo feminino que remete à saudades de algo marcante em nossa vida, reavivadas por sentimentos e/ou sensações causados por algum elemento significativo do passado. É normalmente relacionada à melancolia, angústia ou tristeza pelo entendimento de que não há mais formas de se retornar para aquele ponto (ao menos de forma definitiva) mas que também pode trazer boas lembranças disparadas por algo externo que temporariamente nos faz lembrar e reviver passagens marcantes da nossa vida.

Esta definição enciclopédica é o modo como encontrei para falar não só de todo um movimento pelo qual nossa indústria passa nos últimos anos, marcados por relançamentos, remasterizações, reboots, remakes e outros “res”, mas também por toda uma linha paralela de produtos e serviços, nem todos oficiais e licenciados, direcionados a manter vivas produções clássicas de um passado que nem parece tão distante assim, mas que já acumula algumas décadas de idade. Nunca, em todos esses anos, nos importamos tanto com o resgate e a memória dos videogames. E o mercado sabe bem disso.

Antstream Arcade

Consoles comemorativos, serviços online, coletâneas com qualidade de vida atualizada, e plataformas terceiras que rodam emuladores, são só a ponta de iceberg gigantesco alimentado pela bendita nostalgia, e agora recebemos uma nova possibilidade que promete unir todo esse saudosismo aos princípios básicos da nuvem enquanto espaço de permanência etérea de tantos jogos marcados (ou esquecidos) pelo tempo. O Antstream Arcade, o qual tivemos a oportunidade de experimentar ao longo dos últimos dias, aposta no resgate estruturado como um serviço de streaming como uma de suas qualidades para esse público que, por mais que pareça um nicho, não é tão específico assim.

Com uma promessa de disponibilizar mais de 1.300 jogos clássicos das gerações dos anos 1980 e 1990 (não contei para poder cravar, mas acredite: tem muita coisa lá), estão à disposição jogos completos de consoles e plataformas como o indelével Atari (e suas diferentes gerações); os populares Mega Drive e Super Nintendo; o subestimado Neo Geo; e algumas pouco conhecidas do público mais comum, tais como o MSX, o Commodore 64 e até o lendário Amiga. O Antstream Arcade, portanto, não é um console, ou uma coletânea, mas um serviço de assinatura muito semelhante ao Nintendo Switch Online ou ao Microsoft GamePass, que utilizando da mesma lógica de netflixização de produtos, oferece um catálogo rotativo de conteúdos a serem acessados de dispositivos vários, incluindo o Playstation 5.

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Para os mais empolgados, não espere, porém, que os mesmos 10 ou 15 jogos mais famosos de cada plataforma esteja disponível logo de início. Games consagrados daquela era como os das franquias Donkey Kong, Super Mario, Megaman ou Street Fighter muito provavelmente são caros demais (e importantes demais em outros serviços e compilados) para estarem também em uma plataforma independente. A maioria esmagadora das produções aqui presentes é de jogos considerados menos famosos – e você ver a lista oficial no site da plataforma – cada qual com suas particularidades e atrativos, e enquanto os fãs mais fervorosos daquelas gerações vão poder encontrar coisas raríssimas e pouco celebradas até no seu tempo, novatos poderão redescobrir as entranhas mais surpreendentes do que foi aquele tempo.

Isso não significa que não há coisas mais reconhecíveis do grande público, e na lista dos mais jogados são presenças comuns produções como Metal Slug X, os três Top Racer (ou Top Gear), Double Dragon, Fatal Fury e Art of Fighting (com a SNK presente em peso com algumas das pérolas do já citado Neo Geo), vários jogos das Lucas Arts, incluindo alguns de marcas gigantescas como os jogos de Star Wars de plataforma e advertures lendários como Monkey Island 2: LeChuck’s Revenge e Indiana Jones and the Fate of Atlantis, além de algumas pedras primordiais desta nobre arte, como Pong e Pac-Man. Filtros podem ajudar a encontrar coisas por plataforma, gênero, quantidade de players e outras categorizações, e confesso que a escavação quase paleontológica para descobrir coisas que eu nunca tinha visto tomou-me mais tempo do que eu imaginaria.

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Felizmente, não é só de réplicas que o Antstream vive, e uma das sessões mais interessantes é a dos desafios mundiais, no melhor estilo do recente Nintendo World Championships: NES Edition (para Nintendo Switch), onde fragmentos de alguns dos jogos são selecionados, de tempos em tempos, para algum tipo de desafio multiplayer on-line assíncrono, geralmente baseado em pontuação. Ou seja, você pode, por exemplo, ser desafiado a se aventurar por mais tempo por Double Dragon ou Space Invaders sem morrer, para aí comparar seu desempenho com outras pessoas ao redor do mundo. Com prazos bem pontuais, há uma lista bastante diversa desse tipo de provocação, algo que ajuda muito a conhecer novas preciosidades por serem bem diretos e sem firulas, introduções ou coisas do tipo.

Se essa competição é, obviamente, uma forma bem instigante de se colocar à prova contra pessoas do mundo inteiro, o que não é nada fácil ou confortável para o ego, vários jogos dedicados ao multiplayer local mantém essa propriedade aqui também, tornando muitas das experiências ainda mais divertidas em família. Se zerar a campanha de um Samurai Shodown de arcade não é das tarefas mais simples, jogar com amigos aumenta muito a vida útil desses jogos sem tantos modos single player. Descobrir alguns beat ‘em ups ou jogos de lutinha com outras pessoas ao seu lado no sofá é divertido, não só pelas maravilhas disponíveis, mas também pelas podreiras que, inevitavelmente, também existiam na época. É aí onde encontrar algo como um Beast Wrestler (Mega Drive) achando que pode ser uma variação de outro jogo com “beast” no nome é uma decepção medonha misturada com comédia de desconforto.

Antstream Arcade

Com padrões de assinatura diversificados, o Antstream Arcade pode ser adquirido em pacotes mensais, pelo período de um ano ou de forma vitalícia (o que parece bastante tempo e que, espero, realmente seja mesmo) e também pode ser acessado em diferentes plataformas. Com a conta Playstation, porém, não consegui acessar via outros dispositivos, como o PC ou a TV Sansung com o aplicativo deles das mais recentes que permitem esse tipo de conexão em nuvem. Mesmo sendo uma conta on-line, parece-me que não há uma conta compartilhada entre estes aparelhos, ainda que aparentemente deve haver entre dispositivos mobile e computadores, já que o acesso para estes meios é via e-mail e não via conta da PSN. De qualquer forma, vale a pena conferir, caso você tenha interesse em usar o serviço em outros lugares, o quê conversa com o quê.

Já em termos de desempenho, ao não precisar lidar com jogos tridimensionais muito pesados, a fluidez on-line é muito boa. Jogando em vários momentos do dia, em períodos de maior e menor tráfego na minha internet comum, não tive problemas de travamentos ou desconexões, e na maioria do tempo todos os jogos que testei pareciam rodar como se instalados localmente, sem lag de entrada ou lentidão. Somente em momentos de maior profusão de elementos em tela, vez ou outra, a taxa de quadros caia perceptivelmente. Quando as coisas explodem em Metal Slug, com efeitos pela tela toda, bonequinhos andando para todos os lados, tiros tomando a tela – aquelas situações de dedo no nariz e gritaria – por exemplo, eu sentia que o jogo enroscava um pouco, mas felizmente nada muito grave para a experiência.

Antstream Arcade

 

Como não poderia deixar de ser, há um sistema de save state quase obrigatório para melhorar a qualidade de vida destes jogos, com três espaços de salvamento manual e mais um automático, mas estranhamente, em um ou outro não era possível habilitar essa facilidade, como em Top Gear 2. Tive que apelar para a captura de tela do password, já que meu caderinho de anotações de outrora infelizmente não estava disponível como naquela época. Outra função simples, mas importante, é o remapeamento de botões via sistema, independente do jogo, já que as configurações padronizadas muito bem ilustradas na abertura de cada um deles nem sempre é a mais confortável. Entretanto, alguns ajustes melhores que os originais, como o acelerador mapeado no R2, são surpreendentes e muito bem-vindos, demonstrando cuidado por parte da curadoria do projeto.

Importante ainda destacar que a plataforma é bastante adaptável à janela original de cada jogo, com uma interface limpa mostrando somente o avatar escolhido por nós e um indicador de status de conexão durante a jogatina. A não ser pelos recortes dos desafios já citados, há um conceito de intervencionismo mínimo e, portanto, adeptos a redimensionamento da tela de jogo ou do uso de filtros que suavizam o aspecto pixelado não vão encontrar aqui tais modernidades. Confesso que senti falta de opções desta natureza, tal como textos e opções no nosso bom e velho português brasileiro, mas provavelmente este é o meu “eu” já tão acostumado a remasterizações atuais esperando por algo de uma plataforma que claramente não foi pensada para funcionar assim.

Antstream Arcade

Com a óbvia necessidade de uma boa internet e de um plano de assinatura on-line da PSN para ser aproveitado, o Antstream Arcade é surpreendentemente uma das melhores opções atuais para se aproveitar jogos retrô de forma legalizada em consoles domésticos e outras plataformas que não seus dispositivos originais. Diferente de coletâneas com cinco, dez, vinte jogos, como os celebrados Capcom Arcade Stadium ou SEGA Genesis Classics, só para citar alguns mais óbvios, aqui a quantidade realmente importa, trazendo uma diversidade de títulos assombrosa. Porém, é importante ressaltar novamente que quem quer jogar Sonic, Zelda, Mortal Kombat, Final Fight ou Chrono Trigger vai obviamente se decepcionar porque os mais famosos clássicos daquela geração dificilmente estarão dentre as opções por vários motivos. Considerando que eles estão em outros tantos lugares, olhando para o copo meio cheio, talvez esta seja uma boa oportunidade para poder se dedicar a outros tantos tesouros até então soterrados pelo tempo.