Lost in Random: The Eternal Die chega como o segundo capítulo de uma franquia que se reinventa completamente. Lançado em 17 de junho pela Thunderful Publishing e desenvolvido pela Stormteller Games — novo nome do antigo estúdio Thunderful Gothenburg, nascido da fusão da Zoink! Games e Image & Form — o título rompe com o estilo do primeiro jogo da série. Se antes o jogador mergulhava em uma aventura em terceira pessoa com foco em narrativa e exploração, agora se depara com um roguelite de visão isométrica, focado em ação rápida, combates estratégicos e alta rejogabilidade.
Logo nos primeiros minutos de jogo, é evidente que Lost in Random: The Eternal Die sabe fisgar o jogador. O ritmo acelerado das salas, que podem ser completadas em poucos minutos — ou até segundos —, mantém a sensação constante de progresso e urgência. A estrutura roguelite, com salas, inimigos, encontros e recompensas geradas de forma randômica, garante que cada nova partida seja diferente da anterior. Mesmo que o ciclo básico do jogo — entrar numa sala, lutar, obter recompensas e seguir em frente — seja repetitivo por natureza, ele não cansa. Pelo contrário: a imprevisibilidade dos encontros e o sistema de evolução do personagem mantêm o frescor da experiência por longas horas.
A narrativa coloca o jogador na pele da Rainha Aleksandra, antiga governante do mundo de Aleatório, agora em busca de redenção e vingança. Embora o foco esteja no gameplay, a história não é negligenciada. O jogo é completamente dublado e os personagens, mesmo que secundários, são peculiares e carismáticos, ajudando a construir uma ambientação envolvente. O mundo de Aleatório, com sua estética sombria inspirada em Tim Burton, seus biomas esquisitos e trilha sonora encantadora, é um espetáculo à parte. Explorar os quatro ambientes principais — cada um com identidade própria — é sempre recompensador, não apenas pelas batalhas, mas pelos segredos escondidos e pequenos momentos narrativos que surgem ao longo da jornada.
Existem salas sem inimigos — e belíssimas, por sinal — que servirão apenas para contar história, dando aos jogadores um background da vida de Aleksandra em seu castelo desde que era criança, seja com lembranças daquela época ou com a adição de novos personagens que de alguma forma passarão a fazer parte de sua jornada. Há também salas com diferentes propostas, como por exemplo um mini-jogo de tabuleiro, onde será preciso jogar o dado para coletar recompensas das casas onde você parar. Esse é apenas um dos tipos de encontros que servirão para dar uma respirada e se reabastecer, seja de dinheiro, de itens ou até mesmo de vida antes de seguir em frente.
O sistema de combate de Lost in Random: The Eternal Die é um dos grandes destaques do jogo. A ação em tempo real se mistura com uma camada tática profunda, graças à mecânica de dados e cartas. O dado Fortuna, companheiro inseparável da protagonista, pode virar o rumo das batalhas quando lançado, ativando efeitos variados de acordo com os atributos escolhidos pelo jogador. As possibilidades de customização são vastas: você pode priorizar armas — cada uma com estilos únicos de combate — ou se apoiar nas habilidades oferecidas por cartas mágicas. Também é possível focar em conjurações para causar efeitos mágicos devastadores, em sorte para multiplicar seus acertos críticos, ou investir nos atributos do próprio dado para causar explosões e atordoamentos.
Essa liberdade de escolha proporciona uma variedade estratégica notável. Não existem dois jogadores iguais: cada pessoa encontrará uma forma própria de jogar, explorando sinergias entre cartas, relíquias e equipamentos. O jogo oferece mais de 100 relíquias e 15 habilidades baseadas em cartas, o que incentiva a experimentação. Algumas partidas podem ser excepcionalmente boas — uma combinação poderosa de itens pode transformar o jogador em uma força imparável — enquanto outras serão mais desafiadoras, dependendo da sorte nas recompensas e do tipo de inimigos enfrentados. Essa variabilidade, embora por vezes frustrante, também é o que mantém o jogo vibrante e imprevisível.
A dificuldade é outro ponto bem balanceado. Lost in Random: The Eternal Die não é um jogo fácil, mas também não é punitivo demais. Existem 30 tipos de inimigos e quatro chefes principais — além de mini-chefes que surgem de forma aleatória — , e cada um deles exige estratégias diferentes, o que impede que o combate caia na mesmice. Quando se perde, há sempre a sensação de que é possível fazer melhor na próxima tentativa, já que a morte não significa recomeço absoluto. No Santuário, você pode desbloquear melhorias, adquirir novas cartas, aprimorar armas e aceitar missões secundárias. Esse loop de progressão torna cada derrota parte do aprendizado, e cada nova tentativa mais promissora que a anterior.
Outro elemento que merece destaque é a estrutura modular do jogo. As salas variam em tipo, dificuldade e recompensas, e há inclusive algumas que aparecem raramente, o que aumenta a sensação de descoberta. À medida que você avança, novas regras são introduzidas, adicionando camadas de desafio às partidas seguintes mesmo após o final do jogo. Esse fator mantém o engajamento vivo e amplia a longevidade da experiência. Adicionalmente, os trajes colecionáveis — variados, criativos e com visual adorável — oferecem um incentivo estético divertido, especialmente para quem gosta de personalizar a aparência de seu personagem.
O visual de Lost in Random: The Eternal Die é outro trunfo. Os ambientes são meticulosamente detalhados, com cenários que parecem saídos de um conto de fadas gótico. A paleta de cores, os designs distorcidos e a atmosfera levemente melancólica conferem uma identidade única ao jogo. A trilha sonora, por sua vez, complementa perfeitamente a ambientação, e a impressão é de estar explorando um pesadelo lúdico, algo entre o grotesco e o encantador.
Mesmo sendo uma mudança radical em relação ao primeiro título da franquia, Lost in Random: The Eternal Die demonstra que arriscar pode ser muito recompensador. A Stormteller Games acerta ao reinventar sua abordagem, adotando uma estrutura roguelite sólida, criativa e cheia de charme. O jogo consegue se destacar em um gênero saturado não apenas por sua estética única, mas pela forma inteligente como mistura ação frenética, planejamento estratégico e um toque de sorte. O combate viciante, a liberdade de personalização, a constante sensação de progresso e os pequenos mistérios do mundo de Aleatório fazem com que seja quase impossível jogar apenas uma vez.
Lost in Random: The Eternal Die está disponível para PS5, Xbox Series, Switch e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Thunderful Games.