Análises

F1 25 – Review

Lá se vão 75 temporadas desde que um bando de malucos entraram em monopostos mambembes para disputar o primeiro Grande Prêmio daquela que viria a ser conhecida como Fórmula 1, a principal e mais charmosa categoria do automobilismo mundial desde então. E se a versão de carne, osso, engrenagem e gasolina celebra a importante marca, a versão em pixels divide a primeira curva e não fica para trás.

Mais uma vez sob as mãos competentes da Codemasters e com distribuição da EA, o game licenciado da F1 deste ano herda algumas das mudanças mais significativas no grid de largada dos últimos anos, capitaneada pela controversa mudança de equipe do heptacampeão mundial Lewis Hamilton da sólida Mercedes para a lendária Ferrari. Impossível também não citar o retorno da bandeira brasileira ao campeonato pelas mãos e pés de Gabriel Bortoleto, piloto da Sauber.

Ainda assim, após um período, nos últimos anos, de adaptação a novas regras e algumas mudanças bem importantes no modelo de disputa, regras milimétricas nos carros e outras transformações promovidas pela FIA que, necessariamente, acabam espelhadas na sua contraparte digital, o game deste ano se mostra bastante calcado no nível de excelência alcançado na edição passada, sem mudanças perceptíveis nos sistemas de gameplay.

Isso significa que, no que se refere à mecânicas principais de aceleração, frenagem e controle do veículo em retas e curvas, o game está bastante parecido com o que já foi feito antes, quiçá exatamente igual. O mesmo vale para ajustes e refinamentos mais sofisticados no balanço do carro, controle de tração e outras funções avançadas para aqueles que gostam de se apropriar de tudo de forma manual. Ou seja, tudo o que aprendemos antes continua valendo.

F1 25

Mesmo a interface, inspiradíssima nos modelos de transmissão televisiva da categoria, muda muito pouco em relação ao que já fora bem aprimorado, e senti alguns ajustes mais sutis na qualidade de vida de um ou outro menu ou tela de suporte para administração dos bastidores de cada grand prix. Cada vez mais simpáticas a novos adeptos, algumas ações ficaram mais diretas e mais óbvias.

Isso não significa, claro, uma simplificação das funções mais aprofundadas, e os longos e didáticos tutoriais no início da jornada deixam tudo isso bem claro. Há muita coisa com o que se preocupar nos diversos modos de jogo, e leva um certo tempo até que nos acostumemos com cada possibilidade. Algumas são bastante úteis, outras são instigantes, e outras ainda são complementares e, dependendo da experiência pretendida pelo jogador, dispensáveis.

As maiores transformações estão, portanto, nas formas mais populares do jogo, que passaram por reformulações surpreendentemente profundas, a começar pelo modo narrativo Ponto de Frenagem, que basicamente mistura uma trama digna de bons filmes esportivos com situações em corrida bem intensas.

A sequência segue com a saga da Konnersport rumo a um lugar dentre as grandes de todos os tempos ao custo de tensão e de relações deterioradas dentro da equipe, algo que traz consequências substanciais no desenvolvimento da campanha e até na forma como encaramos cada corrida. O esforço criativo para tornar esse modo algo significativo é louvável, fazendo-o valer a pena.

Agora oferecendo opções mais acessíveis de dificuldade tal como nos demais modos, fica mais confortável decidir acompanhar a trama somente pela história ou se arriscar de um jeito mais arrojado, algo recomendado para os mais experientes e ousados, já que várias situações nas quais entramos de cabeça são bem mais desconfortáveis do que nos sistemas controlados desde o início na temporada convencional.

Outro modo que recebeu uma atenção especial este ano é o F1 World, onde basicamente assumimos o papel de cartolas e pilotos ao mesmo tempo. A renovação é a maior desde o início da atual geração e, não à toa, é chamada de 2.0, pesando a mão nas ações de gestão da equipe e das instalações onde o trabalho é planejado antes de todos colocarem a mão na massa. Esta pegada mais corporativa cansa um pouco, mas é exatamente aquilo que torna esse modo algo distinto do campeonato tradicional.

Para aqueles que se afastam de ações burocráticas, a quantidade de ações pode assustar. Elementos como Pesquisa e Desenvolvimento funcionam independentes uma da outra. Na prática, isso significa que o jogador pode ordenar o desenvolvimento de novas ferramentas, mas só implementar aquelas que lhe interessar, na ordem que melhor convir. São ações complementares, mas ainda assim dotadas de uma certa autonomia para se avaliar as melhores composições.

O aspecto de recursos humanos também subiu um nível de complexidade, com a necessidade de ampliação e gestão da equipe de mecânicos, marketing e outras áreas importantes demandando parcimônia para empenho dos recursos. Já na negociação com pilotos, o diálogo ganhou contornos mais interessantes, e até mesmo a divulgação das conversas pode gerar atrito e resultar no chapéu (ou interferência de outra escuderia na contratação), algo que funciona melhor até do que sua contraparte em outros jogos esportivos da casa.

Já os demais modos de jogo, seja em corridas solo ou em disputas multiplayer, trazem mais foco nas corridas (e suas variações entre treinos, sprint e tomada de tempo) e não apresentam tantas alterações dignas de nota, salvo a possibilidade de correr em algumas delas de forma invertida, a saber Silverstone, Zandvoort, e no Red Bull Ring. Confesso que conhecê-las de antemão pode causar algumas confusões na memória muscular dos fãs mais fervorosos, mas é uma novidade que aumenta a sensação de traçados novos disponíveis.

Além disso, F1 25 se dedica bastante em exibir, com toda a pompa, as melhorias gráficas resultantes da aplicação da tecnologia LiDAR (Light Detection and Ranging), que basicamente possibilita o mapeamento e a reprodução de espaços e construções com o máximo de fidelidade possível. Cinco dos circuitos presentes no mundial deste ano – Bahrein, Miami, Melbourne, Suzuka, e Imola – passaram pelo processo e realmente apresentam um nível de detalhamento assombroso.

No aspecto artístico mais amplo, nota-se uma tímida melhoria também no uso da iluminação e dos elementos climáticos, aumento nas linhas de diálogo entre pilotos e equipes, bem como na expressividade de personagens em cenas de corte, mas nada que fuja muito daquilo que estamos acostumados. Olhares menos atentos podem não perceber estas sutilezas incrementais em som e visuais que parecem, ao menos para o gênero esportivo, ter batido no teto desta geração.

Impossível não destacar ainda a ótima representação de pilotos da atual e das gerações anteriores, sobretudo na figura dos ícones de outrora. É sempre bom poder entrar com Senna, Massa ou Schumacher no campeonato atual, e obviamente eu não perderia a oportunidade de correr com o nosso tricampeão mundial guiando uma McLaren moderna. E dependendo da versão, o conteúdo exclusivo sobre o longa-metragem a ser lançado este ano ainda dá um tempero a mais, permitindo que possamos assumir o volante até com Brad Pitt.

E se correr com os grandes nomes do esporte (e até de fora dele) é algo maravilhoso, criar o seu próprio time, customizando absolutamente tudo – dos decalques do seu carro ao uniforme dos pilotos – é o que faz a pontuação adquirida a cada nova ação fazer sentido, seja desbloqueando novos itens cosméticos ou liberando peças e conteúdo, a sensação é de que tudo o que se faz, incluindo as corridas mais aleatórias, vale.

Se já é de praxe que jogos anuais licenciados tragam melhorias pontuais e atualizações pouco revolucionárias na comparação com suas iterações anteriores, EA SPORTS F1 25 transita pelos dois extremos, sedimentando as bases sólidas construídas ao longo desta nova fase da franquia pós aquisição da Codemasters pela EA e, ao mesmo tempo, fazendo algumas mudanças bem significativas em quesitos pontuais, mas estratégicos para a cauda longa do produto no que se refere a monetização e renovação do interesse.

Por mais que possa parecer chover no molhado dizer que esta é uma versão ainda mais refinada daquilo que já estava praticamente perfeito nos últimos dois ou três anos, não deixa de ser verdade. Fica evidente, de fato, ser bastante confortável alcançar este patamar e ter a chance de manter tudo o que funciona para mexer só nos detalhes periféricos, algo que a franquia F1 definitivamente conseguiu.

Guiar no jogo é um grande prazer, com o carro tendo o peso e o comportamento ideais, principalmente quando soltamos as amarras e vamos desligando ou, ao menos, amenizando as assistências, até que elas simplesmente somem e não fazem falta. Soma-se a isso um modelo imersivo e surpreendentemente divertido de gerenciamento, contextualização e aprofundamento da experiência nos boxes, e qualquer entusiasta do esporte a motor está novamente muito bem servido aqui.

EA SPORTS F1 25 está disponível para Playstation 5, Xbox Series e PC. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela EA Sports.

Veredito

Na comparação com o jogo anterior da franquia, EA SPORTS F1 25 arrisca pouco no aspecto da pilotagem em si porque sabe que já alcançou um nível de excelência e estabilidade. Com algumas mudanças substanciais em dois dos seus principais modos de jogo e com melhorias sutis nos visuais, é o que há de mais fiel e divertido para os fãs da categoria, valorizando os seguidores mais ardorosos sem abrir mão de novos entusiastas.

90

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo