Muito possivelmente um dos eventos mais aguardados por mim desde que as remasterizações começaram a se tornar mais populares era a possibilidade de voltar à capital na era Taisho, investigar mistérios sobrenaturais e invocar demônios para a batalha. Afinal, mesmo com toda a popularidade da série Persona, uma das minhas primeiras e mais impactantes experiências com Megami Tensei foi com Devil Summoner.
E, apesar de toda minha alegria de ver títulos excepcionais como SMT 3: Nocturne e Persona 3 receberem remasterizações ou até remakes, a verdade é que o coração sempre ansiou pelo retorno do herói Raidou Kuzunoha. Não bastasse, então, a satisfação com o anúncio, quando recebemos o convite da Sega e tivemos a chance de jogar os dois primeiros episódios de RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army, o remaster do clássico de primeiro jogo da duologia de PlayStation 2, era difícil que ela fosse algo além de positiva.
Isso pode soar como uma opinião colorida em parte pela nostalgia de revisitar um dos meus títulos favoritos de PS2. E talvez ela realmente seja, por mais que quase 20 anos já tenham se esvaído entre a última vez que o joguei e esse pequeno aperitivo que nós tivemos. Ainda assim, é como reencontrar um velho amigo, mas agora ele está mais nítido, mais fluido e ainda mais charmoso do que nas nossas memórias, mesmo que ele ainda tenha alguns pequenos problemas.
Em RAIDOU Remastered, assumimos o papel de Raidou Kuzunoha XIV, um detetive aprendiz que, além de um estudante, também é um Devil Summoner, encarregado de proteger a Capital de ameaças sobrenaturais. A beleza aqui está na forma como o jogo costura essas duas facetas logo de cara, te apresentando à dualidade da vida levada por Raidou. É uma comparação simplória, mas é fácil ver aqui o quão bem a Atlus (quase) sempre conseguiu casar essa dicotomia entre a vida “comum” de um estudante (em qualquer ambientação que seja) com a batalha contra demônios em ambientes hostis.
De um lado você terá a rotina aparentemente mundana de investigação – coletando informações, entrevistando pessoas peculiares e explorando becos e edifícios da época – com o clima mais intenso de explorar locais perigosos e enfrentar demônios que espreitam nas sombras. A transição entre o trabalho de detetive, que exige perspicácia e atenção aos detalhes, e as incursões no Reino das Trevas, que demandam reflexos rápidos e estratégia em combate, é surpreendentemente fluida e mantém o ritmo da aventura sempre interessante. O jogo por si só consegue apresentar um mistério inicial bem engajante, tanto sobre o que está por trás do Yatagarasu, a organização da qual Raidou faz parte, quanto o estranho pedido da jovem Kaya Daidoji.
Isso é especialmente notório pelo fato de que, ao contrário do que é basicamente um padrão dos jogos da Atlus e de Megami Tensei como um todo, aqui você não terá o conforto de um combate por turnos ao seu lado. Pelo contrário, parte da tensão vem do fato de que RAIDOU Remastered é um RPG de Ação em que você entrará em batalha ao lado dos seus demônios e não meramente dando ordens para eles.
O protagonista conta com a ajuda de uma vasta gama de demônios, muitos dos quais são rostos familiares para os fãs de Shin Megami Tensei/Persona, que podem ser convencidos (ou coagidos), graças à presença do sistema de negociação que é uma marca da franquia, a se juntar à sua causa. Muito do que você precisará fazer aqui depende das habilidades únicas de cada demônio, com o jogo te apresentando logo de cara a importância de ataques elementais (e o bom e velho sistema de exploração de fraquezas), buffs, debuffs ou curas.
Um dos maiores charmes (e diferenciais) de RAIDOU Remastered é sua atmosfera e ambientação. A representação de Tóquio durante a vibrante e turbulenta era Taisho (início do século XX no Japão) é rica em detalhes visuais e sonoros, misturando elementos históricos com o sobrenatural de forma convincente e estilosa. Graças ao período em que é ambientado, ele consegue se diferenciar bastante da estética pós-apocalíptica ou moderna vista em outros jogos da desenvolvedora, trazendo um sabor muito próprio que fica bem claro já nesse começo.
Explorar as ruas movimentadas, interagir com os moradores que reagem à presença de Raidou e mergulhar nos locais assombrados e distorcidos do Reino das Trevas cria uma atmosfera única e profundamente envolvente. O remaster parece ter feito um trabalho primoroso em atualizar os visuais para HD, tornando os ambientes ainda mais imersivos e os designs de personagens e demônios mais nítidos, tudo isso sem perder o estilo artístico original que torna este período tão cativante e distinto dentro da série SMT.
Após as primeiras horas e a conclusão dos dois primeiros episódios, a impressão que prevalece é que RAIDOU Remastered não só vai conseguir capturar a essência mágica e tão cativante do jogo original, mas consegue aprimorá-la de forma eficaz para os padrões atuais, especialmente do ponto de vista gráfico. Ainda há alguns problemas, como uma certa rigidez na movimentação, mas é algo mais complicado de julgar dado a relativa facilidade dos primeiros capítulos.
De toda forma, ver este mundo fascinante e esses personagens carismáticos com visuais mais nítidos, modelos mais detalhados e uma performance mais fluida é uma experiência bem agradável e cheia de nostalgia positiva. A promessa de melhorias de qualidade de vida, como tempos de carregamento reduzidos (que não pudemos julgar aqui já que estávamos jogando no PC) e possivelmente ajustes no sistema de batalha, só aumenta a expectativa para o restante da jornada de Raidou.
No geral, RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army se mostra um retorno bem-vindo e promissor para um título que, talvez subestimado em sua época, merece ser redescoberto por uma nova geração e revisitado pelos fãs. Mal podemos esperar para ver quais mistérios aguardam Raidou e seus aliados demoníacos nos próximos capítulos desta aventura estilosa e sobrenatural.
RAIDOU Remastered: The Mystery of the Soulless Army será lançado em 19 de junho para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox Series, Xbox One, Switch, Switch 2 e PC (via Steam).