EA Sports College Football 25 – Review

Não é muito comum, pelo menos da minha parte, olhar para a cultura de outros países com inveja ou pensando no quanto seria interessante ver aquilo funcionar aqui no Brasil. Afinal, em um país cuja cultura é amplamente invejada pelo mundo inteiro, não há muito que poderia ser feito de diferente aqui nesse aspecto (outros elementos do país são uma conversa bem diferente).

Isso, naturalmente, se expande também para a parte esportiva. Afinal, mesmo não sendo a melhor liga de futebol do mundo ou o campeonato mais bem organizado já visto, ainda temos um campeonato competitivo acontecendo. A grande exceção, pra mim, fica por conta da paixão e cerimonialismo visto nos esportes universitários americanos. Especialmente a forma como o futebol americano universitário é uma parte tão importante da experiência de um dos anos mais formativos das vidas das pessoas e o quão competitivo em alto nível ele consegue ser.

Da enorme quantidade de estádios e times diferentes envolvidos na divisão de topo, todos com seus próprios rituais, estádios, tradições, rivalidades e peculiaridades, à forma como jogadores são adquiridos através de um recrutamento até o mais completo absurdo que é imaginar adolescentes/jovens adultos de 18 a 23 anos tentando competir por títulos nacionais que valem milhões de dólares… Todos esses elementos sempre me fizeram imaginar o quão diferente é a experiência universitária de um país para outro, principalmente depois de conhecer o ótimo NCAA Football 13.

E embora minha paixão pelo esporte tenha nascido com a antiga franquia bem próximo ao seu fim (só mais um jogo seria lançado depois disso), ela foi se aprofundando por anos e anos, sempre permeado por uma vontade enorme de ver a série retornar, agora munido de mais informações e conhecimento que finalmente me prepararam para ser o melhor técnico de todos os tempos. Finalmente ver ela retornar e poder jogar EA Sports College Football 25 é um dos pontos altos do ano e uma prova enorme de que, quando dado tempo e cuidado ao desenvolvimento, a EA consegue entregar algo muito acima da média.

A primeira questão que surge é: depois de tanto tempo, o quão parecido ele é com a outra série de esportes da EA, Madden NFL? Ao mesmo tempo bastante e não tanto assim. Muito do que torna a experiência tão diferente aqui está relacionado ao que acontece fora de campo, mas antes disso é mais valioso falar sobre o que o diferencia na ação dentro dos gramados, já que são os pequenos detalhes que fazem do jogo uma experiência muito mais divertida.

Embora seja fácil de ver o futebol americano universitário só como uma espécie de “divisão de base” da NFL, ela não é. Não só por não existir uma ligação direta nesse sentido, salvo pelos jogadores indo de uma para a outra pelo Draft, mas por ser um esporte independente com suas próprias regras e que impactam o funcionamento do jogo em campo. Com isso, embora ao pegar o controle você vá sentir uma certa familiaridade pelos comandos serem os mesmos do Madden NFL, a prática logo vai se mostrar bem distinta.

Um dos pontos principais disso é que controlar a defesa em CFB25 é bem mais desafiador, já que é um jogo muito mais voltado para privilegiar o ataque e o ritmo ao invés de partidas com pontuação baixa. Adicione a isso o fato de ser um jogo e precisar ser divertido e se prepare para várias partidas terminando 42×35 ou coisas do tipo. Esse é um ponto que talvez venha a receber ajustes ao longo do ano, já que defesas por zona são muito mais eficientes e, ainda assim, quase incapazes de parar seus adversários.

Jogar no ataque, no entanto, é imensamente divertido, muito mais do que em qualquer Madden, com uma prevalência excelente de jogadas de impacto, com recebedores se livrando mais facilmente de adversários, bloqueios abrindo caminhos mais claros e todo um enorme foco as diferentes variedades de playbooks ofensivos existentes no college, com tanto a Triple Option quanto RPOs sendo uma parte fundamental do jogo, difíceis de dominar mas imensamente divertidos de executar. Todo tipo de playbook ofensivo é viável e o jogo captura muito bem a alegria de se soltar uma big play que muda todo o momento da partida.

Dito isso, esses elementos são todos construídos com a ideia de capturar a natureza mais amadora do esporte. Jogadores não são tão bons assim, já que há um gap de qualidade imensa entre elencos de 85 jogadores espalhados por 134 universidades, então muitas vezes serão afetados por elementos como uma torcida mais vibrante em jogos fora de casa (visível através do Pulse Meter, um medidor do quão barulhento o estádio está) que te impedirão de ver o design das rotas e qual o botão certo daquele recebedor, o que pode tornar sua execução mais difícil.

O sistema de “Wear & Tear”, que reflete o desgaste que os jogadores sentem à medida em que vão recebendo porradas em campo, aumentando a chance de lesões mais graves e reduzindo suas estatísticas a depender de qual parte do corpo está ficando comprometida. Todos os jogadores possuem habilidades distintas, com jogadores mais experientes sendo realmente capazes de mudar o rumo da partida, sem parecerem estupidamente dominantes como o “99 Club” do Madden.

Embora o gameplay seja imensamente divertido e mais do que suficiente, onde o jogo realmente brilha são nos seus modos de jogo, especialmente os modos singleplayer. Sim, College Football 25 não é um jogo tão focado no seu Ultimate Team quanto outros jogos da desenvolvedora. Ele está presente e é divertido quanto os outros, mas salvo por troféus, é bem provável que seja bem ignorado pelos jogadores. Onde o jogo realmente brilha são nos seus três modos principais: Road to the College Football Playoff, Road to Glory e Dynasty.

Road to the College Football Playoff é o modo online ranqueado do jogo, similar ao Champions do EA Sports FC, salvo por não fazer parte do Ultimate Team. Ele reduz a quantidade de times disponíveis para jogo apenas aqueles realmente com chance de chegarem ao CFP esse ano e coloca os jogadores com a função de controlarem seus elencos e vencerem o máximo possível até chegar ao título de campeão. Simples, direto e imensamente divertido e funcional.

Road to Glory te permite criar seu próprio jogador, escolhendo inclusive o seu “pedigree” como recruta (de 2 a 5 estrelas de avaliação) e chegando no campus precisando lutar para ganhar espaço no time e se manter elegível para jogar através de suas notas. Para isso, além de treinar, você poderá realizar uma série de atividades secundárias, incluindo estudar e sair para socializar, ganhando pontos e recompensas por isso. Cabe ao jogador administrar o tempo como preferir, com ações fora de campo influenciando o resultado em campo (com o jogador podendo ser suspenso caso seja pego pescando numa prova, por exemplo).

Dynasty é o ponto mais alto e divertido do jogo e o que tornou seu retorno tão aguardado. Aqui você assume o papel de treinador em uma das três posições principais (coordenador ofensivo, defensivo ou técnico principal) e precisa gerenciar seu time, recrutando jogadores fora de campo e jogando as partidas, com o que você faz em um deles impactando o que acontece no outro. Qualquer um dos 134 times pode ser controlado, então caso queira pegar um time mais tradicional, como o Ohio State Buckeyes, Miami Hurricanes ou Louisiana State Tigers, e levá-los ao título, é possível. Assim como é possível pegar um time menor, como Boise State Broncos, App State Mountaineers ou Kent State Golden Flashes e levá-los ao título (e é até mais divertido).

Uma campanha no Dynasty pode durar até 30 temporadas, sendo possível, através do Coaching Carrousel trocar de time no meio do processo ou transferir seu time de uma conferência para outra. O sistema de recrutamento ficou bem rico e mais divertido do que era no PS3, sendo bem desafiante de gerir, ainda mais considerando que agora é possível recrutar transferências depois do recrutamento de jogadores do ensino médio para preencher os buracos que podem ter ficado.

No geral, College Football 25 é um excepcional jogo de futebol americano, com um foco muito maior em seus modos singleplayer do que online, capaz de prender o jogador por dezenas de horas em cada um deles com uma série de possibilidades e elementos a serem explorados. Não é só uma homenagem à franquia anterior da EA sobre o esporte, mas uma verdadeira evolução que se encaixa no topo da cadeia alimentar de esportes.

Da ação em campo ao gameplay fora dele, todos os elementos se encaixam e demonstram o valor de dar um tempo maior a uma equipe de desenvolvimento para pensar e deixar suas ideias florescerem. É um ótimo primeiro passo nesse retorno, mas um que não pode ser desperdiçado agora que ele deverá retornar ao fluxo normal de lançamentos anuais de jogos de esporte.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela EA Sports.