Análises

Suikoden I & II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars – Review

Remasterizar um dos mais icônicos títulos de um gênero é uma responsabilidade importante, especialmente quando essa mesma franquia já vem jogada ao ostracismo pela sua publisher há muito tempo. À medida em que a Konami vai trabalhando para recuperar muito da boa vontade que os anos sem praticamente lançar jogos (e outros problemas de bastidores que acabaram vindo à tona), um nome era certo que precisaria retornar: Suikoden.

Embora não tão famoso quanto outros JRPGs da sua época, algo natural visto que o PS1 é considerado uma era de ouro para eles, Suikoden foi aos poucos sendo reconhecida como uma das jóias mais preciosas (e muitas vezes ignorada) do gênero. Mesmo que sua caminhada tenha passado por percalços maiores no final, até seu eventual abandono pela Konami, o clamor por um novo título, ou ao menos uma remasterização ou remake, foram crescendo, ainda mais após o anúncio de um sucessor espiritual.

Quando finalmente tivemos o anúncio de Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars, parecia um sinal de que o universo finalmente estava se alinhando, mesmo que com o longo silêncio, o título agora finalmente está sendo lançado. Toda uma nova geração de jogadores teria a oportunidade de apreciar dois importantes títulos, com Suikoden II, em específico, sendo amplamente aclamado como um dos melhores jogos de todos os tempos. E com boa razão para tal.

Suikoden I & II HD Remaster: Gate Rune and Dunan Unification Wars

Há uma razão para a escolha de lançar ambos os títulos juntos. Embora lançamentos futuros sejam ambientados no mesmo universo, os dois primeiros estão diretamente conectados. Suikoden I HD Remaster: Gate Rune War gira em torno do Scarlet Moon Empire, um império estabelecido por um aclamado herói há bastante tempo. O protagonista é filho de um importante General do império e, quando seu pai parte para uma batalha, é a vez do jogador de também partir em sua própria jornada para forjar seu caminho dentro do exército imperial.

Naturalmente, as coisas não são tão simples quanto parecem. A verdade é que, consumidos pelo imenso poder que veio junto com a consolidação do império, o governo se tornou imensamente corrupto e as pessoas que vivem sob sua bandeira sofrem imensamente, muitas vezes sem ter o que comer, enquanto os supostos “líderes” vivem vidas cheias de regalias e confortos. O protagonista é forçado não só a encarar os fatos, mas assumir o seu predestinado papel como a força-motriz por trás da união de 108 guerreiros (conhecidos como as 108 Estrelas do Destino) em torno da revolução.

A história do primeiro Suikoden é bem legal, ainda que bem mais lenta do que o ritmo narrativo com o qual estamos acostumados hoje em dia. Ele é baseado em um livro chinês chamado Margem da Água (que, entre outras obras, influenciou também em títulos como Jade Empire), com o jogo trazendo vários dos seus conceitos centrais, como as 108 Estrelas do Destino (que seria algo presente em todos os Suikoden, menos os spin-offs) direto deles. A forma como o jogo trata sobre a forma como o poder corrompe os governantes e a possibilidade das pessoas se unirem em torno da luta por um futuro melhor também é bem trabalhado, ainda que acabe caindo em certos clichês, como o fato do protagonista ser, no fim das contas, um predestinado.

Suikoden I & II HD Remaster: Gate Rune and Dunan Unification Wars

Naturalmente, com um foco tão grande na quantidade de personagens, muito do sucesso da história depende deles e talvez seja nisso que Suikoden dê seus tropeços. É quase impossível ter um elenco de centenas de personagens em que todos recebam tempo e atenção suficiente para serem desenvolvidos, então alguns deles acabam servindo mais para preencher certos espaços básicos do que para ajudar a narrativa a evoluir.

Em termos de gameplay, Suikoden é exatamente o que o jogador esperaria de um RPG lançado para PS1 em 1995. As batalhas ocorrem por turnos e são aleatórias. Para conseguir comportar um grupo maior dos 108 personagens, as equipes são de 06 personagens e o jogador decide as ações de todos os personagens antes deles serem executados, com a ordem em que as ações são executadas sendo determinada pela velocidade de cada personagem e inimigo.

Por fim, cada personagem tem um alcance para os golpes, sendo Shorts, para personagens que só podem atacar da primeira fila; Medium, para personagens que podem atacar das duas filas e funcionam bem em qualquer uma delas; e Long, para personagens que podem atacar das duas, mas são muito mais eficientes na fila de trás. E, claro, não se pode esquecer dos Unite Attacks, poderosos golpes especiais que são desbloqueados ao ter certas combinações de heróis em sua equipe ativa.

Suikoden I & II HD Remaster: Gate Rune and Dunan Unification Wars

É um sistema funcional e bem divertido, mas não espere nada imensamente revolucionário. O grande diferencial fica por conta dos outros dois modos de combate que o jogo traz: os Duels e as War Battles. Ambas seguem a conhecida lógica de pedra, papel e tesoura, com os duelos girando em torno de Atacar, Defender ou usar um Special Attack, no qual atacar vence defender, defender vence special e special vence o ataque. Escolher o movimento certo, muitas vezes se valendo das dicas que os adversários dão, é necessário para ter sucesso, ainda que nem todo duelo seja necessário vencer.

Nas War Battles, a lógica é bem similar. Você tem acesso a Charge Attacks, Bows, Magic e outros. Charge Attacks derrotam Bow Attacks, Bow Attacks vencem os Magic Attacks e os Magic Attacks vencem os Charge Attacks. Por fim, a opção “Others” te permite usar as habilidades especiais dos generais e variam bastante, podendo ajudar a descobrir mais sobre o cenário da batalha de forma a conseguir virá-la ao seu favor.

Por último, sobre o sistema de progressão do jogo, ele é bem específico da série. Não há uma loja de armas (apesar de você poder comprar armaduras e itens), sendo necessário que o jogador as melhore em diferentes ferreiros espalhados pelas cidades do jogo. A EXP ganha como recompensa nas batalhas depende do nível do personagem, com a quantidade de pontos reduzindo a medida em que o personagem for subindo de nível. Por último, cada personagem tem também uma certa quantidade de espaços para runas, as quais te permitem tanto usar diferentes tipos de magia como equipar modificadores que melhoram as estatísticas dos seus personagens.

Suikoden I & II HD Remaster: Gate Rune and Dunan Unification Wars

A grande jóia da coroa, no entanto, fica por conta de Suikoden II HD Remaster: Dunan Unification War. Falar da história de Suikoden II sem entrar em spoilers é um pouco complicado, mas vamos lá. O jogo em si é ambientado 3 anos após o final do primeiro jogo e gira em torno de dois personagens principais: o protagonista silencioso e seu melhor amigo de infância, o jovem Jowy Atreides. Ambos adquirem uma das metades da Rune of the Beginning, uma das 27 True Runes (fontes gigantescas de poder que dão aos seus portadores poderes quase divinos e parte essencial da mitologia da franquia) e que, por estar dividida, guia seus portadores a entrarem em conflito até que um deles vença e a runa volte a ser unificada.

Por trás do conflito entre os dois amigos, um grande conflito começa a tomar força entre as Cidades-Estado de Jowston, terra natal do protagonista, e o reino de Highland, comandado por um sanguinário e cada vez mais poderoso príncipe chamado Luca Blight. Cabe então ao protagonista partir em sua própria jornada para encontrar uma forma de reunificar a Rune of the Beginning, restaurar sua amizade com Jowy e, se não bastasse isso, encontrar uma forma de proteger sua terra natal da crescente ameaça de uma nova guerra, muito graças ao seu status como filho adotivo do herói que salvou Jowston em uma guerra anterior contra o mesmo reino.

Honestamente, a narrativa de Suikoden II não é só excepcional para a época, ela ainda se sustenta como uma das melhores já vistas até hoje. A forma como o título consegue entrelaçar questões pessoais envolvendo o protagonista e as intrigas políticas por trás da Dunan Unification Wars por si só já merece elogios, mas a maneira como o jogo consegue integrar o processo de recrutar as outras 107 Estrelas do Destino (totalizando os 108 com o protagonista) e desenvolver melhor esses personagens, dando motivação crível à (quase) todos eles diante de todo o peso político da guerra. E isso inclui uma série de personagens que retornam do jogo anterior para este, sendo possível até importar dados do 1° jogo para que eles comecem essa segunda jornada com nível mais alto e equipamentos melhores.

Suikoden I & II HD Remaster: Gate Rune and Dunan Unification Wars

Dito tudo isso, a construção narrativa de Suikoden II prospera muito por conta da maneira como o jogo trata sobre temas mais delicados, como os crimes cometidos por soldados que muitas vezes são ignorados e o efeito desses combates nas pessoas comuns é excelente e algo muito, muito raramente visto em um jogo. E tudo isso é elaborado de uma forma em que o jogador consegue sentir através dos personagens as faces mais sombrias de um combate entre nações, fugindo da pura glorificação da guerra, como tanto se vê, mas mostrando como seus horrores muitas vezes alimentam ciclos eternos de dor e violência.

Em termos de gameplay, Suikoden II não mexe em muitos elementos, mas evolui em aspectos importantes. O sistema básico de combate e exploração segue o mesmo, mas o sistema de runas é mais rico, com a possibilidade de equipar três runas diferentes, minigames foram adicionados e o sistema de Duels foi revisto para incluir Wild Attacks ao invés de Special. Por último, as War Battles, agora chamadas de Massive Battles, passaram a adotar um sistema de grid e são bem mais elaboradas, com o jogador agora podendo usar seus aliados recrutados como líderes de unidade e suporte, melhorando seus batalhões e, com isso, afetando sua chance de sucesso em combate.

Haviam algumas outras melhorias de um jogo para o outro, mas que acabaram sendo padronizadas com a remasterização. Agora há um botão de dash dedicado e livre, sem precisar de runas, em ambos os jogos, a possibilidade de acelerar combates, autosave, um log de conversas e várias outras pequenas melhorias de qualidade de vida que se esperaria, como a reformulação da UI de ambos os jogos para tornar tudo mais rápido e agradável. A grande reclamação fica pela ausência de legendas em PT-BR, algo que seria imensamente bem-vindo, mas que a Konami acabou não trazendo para os jogadores brasileiros.

Por fim, cabe dizer que as melhorias gráficas e sonoras que o jogo trouxe foram muito bem-vindas, especialmente quando se considera que, mesmo sendo ambos os jogos de PS1, eles tinham estilo de pixel-art bem evocativa dos 16-bits. Embora não seja um completo remake em estilo 2D-HD, por exemplo, ele traz diferenças bem notórias em comparação aos títulos que saíram há 30 e 27 anos, respectivamente. Com isso, espere melhorias nos cenários, que foram retocados, melhorias de iluminação, retratos dos personagens refeitos, melhorias nos efeitos visuais do combate, além de inclusões de novos efeitos sonoros e remasterização do áudio como um todo, além de vários outros pequenos ajustes que deixaram os jogos bem mais bonitos e imersivos (em especial Suikoden II).

Colocando-se todas as cartas na mesa, Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars é um pacote incrível, muito pela altíssima qualidade dos seus títulos. Embora o primeiro título acabe caindo em alguns clichês (apesar de ser um título de uma época em que esses clichês estivessem se consolidando), jogá-lo antes do 2° é fundamental e eleva o que, por si só, já é uma experiência excepcional (e que é possível jogar isoladamente) em uma obra-prima como poucas vistas no gênero.

Isso não é para dizer que Suikoden I não é um bom jogo, porque ele definitivamente é, mas Suikoden II</em. é um título como tão poucos na história dos videogames como um todo que, por si só, já mais do que justifica a existência desse remaster. Os únicos pontos negativos ficam pelo fato de que, enquanto remasterizações, eles fazem o básico, trazendo melhorias de qualidade de vida necessárias, mas esperadas, mas falhando em não oferecer legendas em PT-BR, algo fundamental hoje em dia, especialmente para permitir que mais jogadores tenham acesso a essa indescritivelmente excepcional obra de arte.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Konami.

Veredito

Suikoden I & II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars é uma excepcional coletânea com dois importantes JRPGs, incluindo uma das maiores obras-primas do gênero. O sistema de gameplay funciona bem, mas o verdadeiro brilho vem através de duas ótimas narrativas que merecem ser jogadas por qualquer fã do gênero.

90

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo