Análises

Synergia – Review

Synergia é uma visual novel desenvolvida pela Radi Art, o primeiro jogo desenvolvido por esse grupo indie encabeçado por Francisco Perez Molina, que também é o responsável pela arte, direção, roteiro e ilustração, e publicado para PlayStation 4 (em breve PlayStation Vita também) pela Top Hat Studios, uma publisher de jogos indie que entrou relativamente recente no mercado de consoles.

O jogo conta a história de Cila, uma policial veterana que trabalha numa equipe de controle e combate a androides, e que, num mundo distópico em que “robôs” estão em todo lugar e marcado por uma guerra entre o Império e os rebeldes, ela não vê mais motivos para aproveitar a vida.

Praticamente sem amigos e excluída em seu ambiente de trabalho, Cila volta para casa certo dia e encontra sua única companhia, uma androide doméstica, sem funcionar. Sabendo que sua solidão é demais para encarar totalmente sozinha, ela procura sua única amiga, Yoko, dona de um comércio de robôs, para encontrar uma nova companhia. Cila, porém, não estava preparada para o que a aguardava com a chegada de sua nova companheira, Mara.

Synergia é, em partes, ação e romance. Uma visual novel de “ação” em que surge uma relação inesperada. No mundo do jogo, apesar de estar cheio de androides vivendo junto com humanos, romance entre humanos e androides é completamente proibido e ilegal. Isso não impede Cila de se aproximar sua nova companheira, e a relação das duas, assim como a origem de Mara, serão o propulsor da história.

O universo e a vibe do jogo me lembraram bastante de VA-11 HALL-A. Apesar da jogada de ambientar a história num mundo distópico não ser algo inédito, ultimamente são as visual novels desenvolvidas no Ocidente que usam desse cenário de forma mais recorrente e criativa.

OELVN, termo usado para descrever visual novels, quase sempre indies, que foram originalmente desenvolvidas e escritas em inglês do que japonês, se aplica a Synergia. Existe um certo preconceito no mercado com esses jogos, porém alguns deles, incluindo o jogo objeto dessa análise, conseguem caminhar em um meio termo que consegue chamar a atenção desse público sem tentar emular totalmente e entregar uma cópia japonesa.

O romance entre Cila e Mara é tratado de forma muito natural e espontânea, que apesar de ser um dos propulsores de tudo que ocorre no jogo, não se deve ser comparado com outros jogos do gênero cujo propósito seja se aproximar e desenvolver relações entre protagonista e demais personagens.

A arte do jogo foi feita pelo mesmo artista que criou o conceito do jogo, escreveu a história, dirigiu as cenas, enfim, o maior responsável pelo produto final. Esse foi um dos pontos que mais me chamaram atenção. Os traços de alguns personagens são grosseiros, mas no geral, é uma arte tão particular e única, que pode se perdoar ou até mesmo apreciar dessa forma.

Alguns personagens são mais detalhados do que outros, e os designs de alguns androides que Cila encontra durante o jogo são bastante elaborados, apesar de como havia dito, um pouco grosseiro. A paleta do jogo, sendo um mundo distópico, condiz com a vibe sombria e sem brilho da vida dos habitantes do Império.

A trilha sonora é “minimalista”. São poucas faixas, que tocam de fundo num volume bem baixo, e que surgem de forma mais acentuada em certas cenas e momentos da história. Também segue o mesmo estilo “cyberpunk” retro-futurista que o jogo se propõe a criar. O jogo não possui dublagem e opções de idioma em inglês, espanhol e chinês.

Synergia foi desenvolvido após uma campanha bem sucedida na plataforma Kickstarter, arrecadando quinze mil dólares, que buscava fundos para permitir que o desenvolvedor pudesse terminar o jogo, encomendar mais faixas para a trilha sonora, assim como financiar a ajuda da publisher Top Hat Studios em desenvolver versões para consoles.

Considerando o produto final, Synergia foi um jogo que me surpreendeu, dado o histórico e escopo do desenvolvimento, assim como a sua baixa notoriedade dentro do mercado. O universo criado para o jogo é bastante interessante, a relação das personagens foi belamente narrada e os conflitos principais conseguem engajar durante as quatro horas de jogo.

Sendo esse o primeiro jogo do desenvolvedor Francisco Perez Molina e de sua equipe no geral, apesar de sua “bruteza” e falta de refinamento, acredito que existam boas chances de que, com um orçamento maior além de mais experiência e bagagem, possamos ver ótimos jogos no futuro vindos da Radi Art.

Jogo analisado no PS5 com código fornecido pela Top Hat Studios.

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