Fruto de uma combinação de diversos gêneros e um dos mais interessantes spin-offs da série Dragon Quest, Builders 2 é uma sequência que expande a fórmula original. Não há mudanças drásticas no gameplay, visuais ou música, mas o conteúdo ficou ainda mais vasto. O multiplayer, que poderia ser um grande diferencial, ainda é limitado.
Assim como seu antecessor, Builders é um híbrido de RPG e Minecraft (ou similares). Os elementos de RPG e o enredo contidos na campanha fornecem objetivos específicos ao jogador, um foco muito bem-vindo que serve de guia àqueles intolerantes ao playground de Minecraft e demais jogos do mesmo gênero.
A aventura consiste de exploração, combate e, especialmente, construção. As lutas são simplórias, típicas de um RPG de ação sem profundidade alguma – a evolução em relação ao primeiro foi bem pequena nesse aspecto. Embora existam alguns movimentos de ataque especiais e a possibilidade de montar em criaturas, os confrontos são caracterizados pelo “button mash”.
Dragon Quest Builders 2 se destaca pelas novas possibilidades de criação. Além da variedade de assets disponíveis e dos inéditos tipos de quartos/estabelecimentos, alguns limites foram quebrados para maximizar a criatividade dos jogadores.
A barreira vertical não é tão limitadora como antes, sendo possível construir monumentos ou grandes castelos sem se preocupar com a altura. Além da possibilidade de nadar em Builders 2, agora há uma nova física de fluidos e a água pode ser manipulada com maior facilidade. Outras pequenas novidades são extremamente benéficas ao gameplay, como o generoso tamanho do inventário, a facilidade de teleportar e o botão de corrida.
Infelizmente a campanha é fragmentada, assim como o primeiro game da série. Contudo, não se perde os itens e conhecimentos adquiridos ao longo da história. Nesta edição, a aventura é dividida pela visita a determinadas ilhas – cada uma com um bioma específico e propriedades de gameplay bastante peculiares.
A primeira ilha representa um extensivo tutorial de técnicas de agricultura, portanto este é o tema predominante. Na segunda ilha a atividade muda bruscamente, evitando a monotonia a longo prazo. O grande porém em Dragon Quest Builders 2 está justamente na introdução dessas mecânicas novas – o design dos tutoriais é intrusivo, obrigatório e perdura por boa parte do jogo.
Ainda que seja um jogo divertido e terapêutico, a ponto de investir horas sem se dar conta do tempo “perdido”, este novo Dragon Quest abusa da paciência dos jogadores na introdução de novos elementos. O usuário do game vai precisar passar por muitas horas lendo longos diálogos sem dublagem de voz e não há escapatória da “bicicleta de rodinha” em Builders 2. As primeiras horas são especialmente lentas e é preciso perseverar para encontrar as maiores qualidades do produto.
Parte integrante dos tutoriais supracitados, algumas side/fetch-quests de design simplista também empobrecem a experiência. Builders 2 brilha de verdade quando nos deixa experimentar e brincar livremente com suas ferramentas.
O remédio ideal para os males desse novo Dragon Quest é o maior controle das opções de jogo. Infelizmente, as opções são bastante limitadas. Até mesmo os controles não podem ser editados livremente e o jogador deverá se contentar com dois ou três esquemas disponíveis para as principais ações.
Tendo em vista que o público de Dragon Quest é diversificado, é compreensível que exista um vasto guia para jogadores jovens. Todavia, é decepcionante não existir uma opção de pular as quests redundantes e obsoletas, que são um disfarce de tutorial.
O multiplayer também podia ser melhor, mas pelo menos evoluiu em relação ao primeiro game. O coop pela campanha inteira não é possível, mas até outros três jogadores podem visitar sua ilha particular e ajudá-lo a cumprir algumas tarefas específicas do local. Também existe um painel em que é possível compartilhar fotos com outros usuários online.
Referente aos aspectos técnicos, Dragon Quest Builders 2 não impressiona. Embora graficamente simples, a versão PS4 pelo menos roda a 60 quadros por segundo. Não se mantém constantemente nesse patamar (nem no PS4 Pro), especialmente nos vilarejos populosos e com muitas fontes de iluminação. Quanto às músicas, é a mesma reciclagem e Midi de baixa qualidade presente nos últimos Dragon Quests – uma decepção esperada. Pelo menos a arte de Akira Toriyama ameniza a simplicidade dos gráficos e cai muito bem ao visual chibi deste spin-off.
Jogo analisado no PS4 Pro com código fornecido pela Square Enix.