É inegável que Minecraft continua sendo uma franquia que movimenta muito dinheiro. Isso provavelmente também é verdade para a versão narrativa criada pela Telltale. Enquanto títulos como The Wolf Among Us e Game of Thrones estão aguardando uma sequência há tempos, Minecraft: Story Mode inicia sua segunda temporada menos de um ano após a conclusão da primeira.
Poderíamos considerar esta como sendo uma terceira temporada, visto que a primeira encerrou a história no quarto episódio e foi incrementada por outros três episódios, os quais, juntamente com o quinto, eram histórias curtas, autocontidas, narrando aventuras extras de Jesse e seus amigos, já heróis consolidados como membros da Ordem da Pedra.
A história continua seguindo a jornada de Jesse – cujo gênero e cor da pele são escolhidos pelo jogador –, e seu grupo de heróis, alguns anos depois dos eventos da temporada anterior. Sem nenhum perigoso vilão querendo dominar o mundo para enfrentar, cada membro da Ordem da Pedra seguiu com sua vida, mudando-se de cidade e tocando uma rotina um tanto quanto tediosa e sem muitas emoções.
Isso acaba mudando quando Petra convida Jesse e a gangue para uma investigação nas minas da Vila do Sinal (Beacontown). Infelizmente, apenas Jesse atende ao chamado, enquanto os outros membros passam a vez, ocupados com suas novas responsabilidades. Como toda grande aventura, o que era para ser uma missão simples termina em algo muito maior. Jesse encontra uma manopla de prismarinho que sussurra seu nome e que, quando equipada, não sai mais de sua mão.
De modo a descobrir mais sobre a manopla de prismarinho e o que fazer para se livrar dela, Jesse e Petra, junto de dois novos personagens, Jack (um caçador de tesouros) e Nurm (um aldeão – NPC de Minecraft) desbravam territórios inexplorados do mundo e um templo debaixo da água. Logicamente, isso dá início a uma nova jornada e ao despertar de um novo perigo.
Apesar de um episódio que pode se estender por mais de duas horas, a história demora muito a engrenar, sendo bem maçante, sem emoção e com pouco espaço para humor. Ela também é preenchida por alguns mini-arcos que provavelmente farão mais sentido nos próximos episódios. Somente perto do final, principalmente durante a exploração do templo d'água é que a narrativa ganha algum fôlego e fica mais animada.
Aqueles que não jogaram a primeira temporada poderão começar sua jornada a partir desta, já que a trama do jogo não é assim tão complexa e a história é nova, sendo que muitos dos personagens da temporada anterior (infelizmente) fazem uma aparição curta ou são apenas mencionados. Além disso, um pequeno resumo é feito de uma forma criativa logo no início, dando um contexto mínimo para novos jogadores.
Já para aqueles que experimentaram a primeira temporada, o jogo permite continuar a jornada mantendo as decisões tomadas anteriormente. Isso pode ser feito importando o arquivo salvo do jogo anterior ou por meio de um "reconstrutor", um questionário que o jogador responde com as principais decisões tomadas (algo semelhante ao que foi implementado na terceira temporada de The Walking Dead). Neste episódio, no entanto, as mudanças foram bem sutis, limitando-se a uma ou outra alteração estética no cenário, e espero muito que isso melhore nos próximos.
A Telltale trouxe duas pequenas melhorias estruturais que provavelmente serão refletidas em outros títulos da desenvolvedora. A primeira delas é agora ser possível escolher dentre diferentes línguas para as legendas em um menu no próprio jogo, sendo que as legendas são atualizadas cada vez que o jogo inicia, facilitando a correção de problemas de localização (que ocorreram constantemente na primeira temporada).
A segunda melhoria é naquela janela de informações que ocasionalmente aparece no canto superior esquerdo da tela, que avisa o jogador quando um personagem irá se lembrar de alguma coisa, por exemplo. A janela agora é mais informativa, deixando bem claro quando uma decisão afeta o andamento da história.
Outra melhoria, relacionada mais a este jogo, é no combate (sim, há momentos de combate). Agora é possível rolar para se esquivar de ataques e o personagem possui uma barra de vigor que vai sendo consumida conforme se ataca. É claro que ainda é algo simples e que não exige proeza do jogador, mas traz uma dinâmica mais divertida à ação, não ficando limitada a QTEs.
Outro aspecto que gostei no episódio foi a possibilidade de finalmente ter um pouco de liberdade e fazer aquilo que é essencial em Minecraft: construir. É uma coisa limitada a apenas uma seção do jogo e com um editor não tão bom, mas dá espaço ao jogador para aplicar sua criatividade em utilizar os famosos bloquinhos e construir algo para chamar de seu.
A desenvolvedora também faz bonito em trazer novamente Stampy Cat e StacyPlays como cameos no jogo. Ambos são Youtubers que fizeram fama jogando Minecraft e que ainda mantêm uma série de vídeos ativas com a franquia. Além deles, outros atores retornam para continuar dando vida a alguns personagens, mantendo a boa atuação da dublagem na série.
Minecraft continua sendo uma alternativa mais leve e sem compromisso dentre os títulos da Telltale, buscando divertir mais do que chocar o jogador – desse modo, comunicando-se bem com o público infanto-juvenil, que no caso é seu público-alvo de fato. Fazendo uma comparação, The Walking Dead seria uma "Tela Quente", enquanto Minecraft ficaria como uma "Sessão da Tarde" da Telltale, e isso não é um demérito, é apenas a direção que cada título toma. Leve isso em mente caso decida embarcar nesta nova história.
Veredito
Jesse e seus amigos retornam para mais uma temporada de aventuras pelos blocos do mundo de Minecraft. Em um período de relativa paz, a Ordem da Pedra acaba ocupando seu tempo com outras responsabilidades, deixando as aventuras como um passatempo cada vez mais relegado. A situação muda quando Jesse e Petra investigam uma mina e uma manopla de prismarinho resolve não desgrudar mais da mão do protagonista. A história demora mais do que devia para engrenar e acaba tendo seu ponto alto somente perto do fim. Jogadores novatos podem começar sua jornada a partir daqui, pois, infelizmente, decisões passadas trazem mudanças bens sutis e estéticas, com personagens importantes deixados para uma aparição curta ou sendo apenas mencionados.
Jogo analisado com código fornecido pela Telltale Games.