É muito provável que você já tenha ouvido falar sobre 9 Years of Shadows. Lançado originalmente em 2023 para PC e Nintendo Switch, o metroidvania da desenvolvedora mexicana Halberd Studio finalmente chegou nos consoles da Sony. Já em sua tela inicial, 9 Years surpreende pela música e visual em pixel art. Durante a campanha toda essa beleza fica ainda mais evidente com cenários belíssimos e uma trilha sonora com músicas que facilmente poderiam estar em uma playlist lo-fi. As batidas muitas vezes chegam a ser relaxantes e tornam a experiência bem interessante.
Particularmente tenho a percepção que uma grande parcela dos metroidvanias tem dificuldade em apresentar histórias interessantes e com 9 Years não é diferente. Uma maldição assolou a região em que nossa heroína, Europa, vive e há 9 anos tem se espalhado cada vez mais. Decidida a acabar com isso, ela vai até a fortaleza de Talos onde encontra Belial, a poderosa criatura que habita o lugar. Sem condições de enfrentá-lo, Europa foge e acaba encontrando o pequeno Apino, um ursinho de pelúcia com vida própria com a habilidade de trazer cores de volta ao castelo e que irá nos acompanhar durante a jornada.
Talvez minha crítica possa parecer um pouco sem fundamento, mas mesmo com uma introdução simples, há diversos pontos da trama que a sensação é de que foram apenas jogados lá. Claro que não espero por tramas complexas em games do gênero, mas sinto um certo incômodo quando isso acontece, pois passa a impressão de que os roteiristas se perderam na construção do enredo. Entretanto há alguns momentos em que a história trouxe um certo brilho para o game e, de modo geral, cumpre bem seu objetivo ainda que seja mediana.
Num primeiro momento o sistema de 9 Years me causou uma certa estranheza. Europa inicialmente conta com dois pontos de vida e uma barra de luz, cortesia de nosso pequeno amigo, que além de atuar como a “mana” do jogo também funciona como escudo. Explico: alguns inimigos e interruptores só podem ser derrotados/acionados através do poder da luz. Com o analógico direito controlamos a direção de Apino e com R2 lançamos esse poder. Já durante as lutas essa mesma barra será o escudo e uma vez drenada, o dano passará a ser nos pontos de vida. Por outro lado é possível recarrega-lo de duas maneiras distintas, uma exigindo precisão no timing dos botões e outra mais lenta que requer cuidado ao ser usada durante as lutas contra chefes.
A propósito temos aqui mais um dos destaques de 9 Years. As boss fights são bem criativas e variadas, exigindo um certo domínio das habilidades de Europa que estarei abordando mais adiante. A quantidade de chefes de história e opcionais é bem equilibrada e todos apresentam um desafio na medida certa. Fazer um bom uso da barra de luz acaba sendo um dos fatores essenciais para tirar o melhor proveito das lutas também. Foram poucas as vezes que cheguei a me estressar com algumas delas e com a prática vieram as vitórias.
Como mencionado, Europa conta com algumas habilidades. Um ataque normal e outro pesado. Quando combinados é possível criar um combo causando um dano razoável. Além disso, enquanto desbrava os corredores de Talos, encontraremos armaduras que liberam novos poderes. Claramente inspirado em Cavaleiros do Zodíaco, teremos à nossa disposição as armaduras de Poseidon, Gaia e Helios, ou seja, os elementos água, terra e fogo. Cada um deles não só nos permite causar ataques daquele elemento – o que contra determinados inimigos causa ainda mais dano – como também libera uma habilidade de translocação. Ao utilizar a armadura de Poseidon e entrar em contato com áreas inundadas, poderemos nos transformar numa sereia utilizando impulsos para nadar mais rápido e também atacar inimigos submersos. Com Gaia nos transformamos em uma serpente usando túneis para fazer a travessia – em sua essência lembrando muito a morph ball de Metroid – e com Helios podemos fazer uso de geisers para planar e alcançar novas alturas.
A troca das armaduras é bem simples e em áreas mais avançadas será necessário fazer uso de todas elas para progredir. Um ponto positivo é que não precisaremos ficar a todo instante pensando nesta troca, pois o próprio game irá fazer isso. Entrou em uma área com fogo? Automaticamente será selecionado a armadura de Helios. E isso também é válido para as habilidades de translocação. Elas são extremamente dinâmicas e nas tais áreas mencionadas funcionam muito bem. Porém, quanto aos combos, mesmo apresentando animações distintas para cada armadura, eles acabam se tornando repetitivos e ao chegar na reta final você só irá querer passar rapidamente pelos inimigos sem querer derrotá-los. Em 9 Years, eles não geram experiência, apenas possuem a chance de dropar moedas que serão posteriormente usadas para os upgrades de vida, luz e melhoria das armaduras.
Enquanto exploramos Talos, encontraremos musicistas perdidos que serão os responsáveis pelas missões secundárias do jogo. Todas consistem em ir para uma determinada área enfrentar um boss opcional. Considerando que essas lutas são um dos pontos que mais gostei do jogo, fiz questão de cumpri-las mesmo que a recompensa final tenha sido bem mais simples do que eu pensava, mas ainda dentro do esperado. Ainda durante a exploração é possível encontrar notas musicais e partes de armaduras que junto das moedas serão usadas para os upgrades.
Conforme mencionado no início desta review, 9 Years foi lançado em 2023, tempo mais do que suficiente para que possíveis bugs tivessem sido corrigidos. Entretanto me deparei com algumas situações bem incômodas. A começar pelo problema de navegação do mapa. Utilizamos o analógico direito para scrollar pelo mapa, mas ele fica constantemente travando tornando esse processo – algo fundamental para auxiliar nossa exploração e que precisa ser fluído – desgastante. Durante minhas quase nove horas de gameplay também encontrei um bug envolvendo sons que em dois momentos, após ativados, ficavam sendo reproduzidos num loop sem fim, me obrigando a fechar o jogo e abri-lo novamente.
Também tive problemas com o input do D-Pad para cima. Conversar com os personagens, acionar elevadores e save rooms requer que o botão seja pressionado, mas em diversos momentos o jogo não consegue identificar essa entrada nos obrigando a tentar várias vezes até que dê certo. Para um jogo que brilha tanto em sua dinâmica de translocação pelos cenários, enfrentar esse tipo de problema pode causar quebra de ritmo.
9 Years of Shadows é um metroidvania que vale a pena ser conhecido. Sua dinâmica de fazer uso das armaduras para criar novos meios de travessia é interessante e fluída, além de bem aplicada nos chefes. Mesmo com sua história mediana e pequenos problema, o título consegue entregar boas horas de exploração e diversão junto de uma trilha sonora excelente e ótimas boss fights. É mais um título que mostra a força dos indies e desperta curiosidade para os futuros projetos da desenvolvedora.
9 Years of Shadows está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, Switch, PC e mobile com legendas em português do Brasil. Esta análise é da versão PS5 e foi realizada com um código fornecido pela JanduSoft.