Quem vê um ser carismático que atende pelo nome de Nathan Drake indo atrás de tesouros enfrentando diversos perigos, sejam por meio de inimigos armados ou por uma mãe natureza nada amistosa ou, até mesmo, vitimado por sua falta de sorte, tudo isto concentrado num robusto e realístico jogo de tiro em terceira pessoa, nem pensa que, lá longe, lá em meados dos anos 90, havia um personagem tão carismático quanto o protagonista da série Uncharted, porém numa vertente de jogo totalmente diferenciada. Pendendo mais para o lado fantasioso, mais colorido, mais "infantil", por assim dizer, a Naughty Dog já mostrava a sua competência por meio de Crash Bandicoot para o PSOne.

Um marsupial como mascote? Até que a ideia soara bem. Mas Crash não era um marsupial qualquer. Devido à ganância por dominar o mundo, os cientistas Nitros Bio e Neo Cortex planejavam criar um exército de animais mutantes geneticamente modificados. Vários deles como ratos, tartarugas, macacos foram vítimas de seus experimentos. Crash também fora, porém tal criação não saiu totalmente como planejado e o supracitado marsupial ainda mantivera os seus aspectos de bondade intactos. Eis que um dia, Crash se liberta e foge, todavia sua namorada Tawna fica nas mãos dos vilões. Nosso herói desperta em uma praia, denominada Sanity Beach e é neste local que se iniciam as aventuras em busca da salvação mundial, de recuperar Tawna, de enfrentar inimigos e chefes bem arquitetados, numa jornada que marcou a infância de muitos gamers.

O que já chamara a atenção sem dúvidas é o nível gráfico do jogo. Crash Bandicoot se tornou um dos jogos mais singulares do PSOne na época quanto ao visual. Personagens bem modelados, ambientações com uma paleta de cores variada, dando um colorido em cada localidade das ilhas que o herói tinha que percorrer. Florestas, aldeias, templos, áreas laboratorias, tudo era bem posto em seus caminhos íngrimes e em corredores, seja na progressão em frente (a mais corriqueira) ou nos momentos de progressão lateral clássica. E, para completar o pacote, temos uma trilha sonora pouco variada, mas competente, com arranjos que acentuam o tom cômico da caminhada no jogo, tendo um trabalho de efeitos sonoros trabalhando em sintonia com as composições, como nas músicas tribais em que sons de elefantes claramente estão junto a batidas de tambores, por exemplo. E, ainda, há um tímido, porém competente trabalho de dublagem de alguns personagens-chave do jogo, excetuando o próprio Crash, que não tinha voz.

O hub world em si se assemelha aos da série Donkey Kong Country quanto ao design. Crash sempre segue em frente, podendo voltar, claro, nos cerca de 32 níveis existentes no jogo, contando com as fases secretas. Dentro delas a diversão é rica. E o desafio também. O objetivo é simples: ir do início ao fim de cada nível, passar por perigos típicos de jogos de plataforma, como inimigos e armadilhas. O comportamento diverso dos adversários marca destaque. Crash enfrentará, dentre outros inimigos diferenciados, alguns "comuns" ao mundo dos jogos de plataforma, como tartarugas e plantas carnívoras que referenciam ao universo de Mario e que são derrotados com um simples pisar em cima destes. Além deste movimento de ataque, há um outro muito útil que consiste em fazer com que seu personagem gire rapidamente em si mesmo. Conforme progride no jogo, perceptível é a forma como alguns inimigos devem ser derrotados. Seres com escudos, por exemplo, devem ser pisados, para depois serem finalizados com o ataque giratório. Em alguns, o ataque giratório é a única forma de ataque possível. Em outros, somente o pulo sobre eles. Tente outro ataque na situação e se dará mal. E Crash não perdoa falhas. Claro que existem as vidas, que podem ser acumuladas de diversas formas, porém o "one hit die" marca presença forte aqui. Tome um golpe e perca uma vida. Faça uma investida errada e perca outra. Claro, existe uma ajuda de um ser mítico inca (o Uka uka), em forma de máscara que, ao coletá-la, proporciona uma proteção a mais para Crash e, quando coletado três destes, numa fase, concede uma invencibilidade temporária ao marsupial.

Caixas, caixas e mais caixas. Elas estão, de forma notadamente marcante, durante toda a trajetória. As mais comuns delas são as de madeira e pode conter um número considerável de surpresas. O mais comum, claro, ao quebrá-las,  é encontrar frutas do jogo (as Wumpa Fruits) que, somadas de 100 em 100, vão proporcionando vidas extras a Crash. Dar seguidos pulos em cima delas por vezes se torna uma melhor solução, porque mais frutas são angariadas do que dar um ataque giratório. Existem caixas brancas que auxiliam Crash nas mecânicas de plataforma, mas que podem desafiá-lo, dependendo de ondem estão dispostas. Algumas delas podem ser traiçoeiras, por exemplo, ao esconder bombas, outras presenteiam o herói com tokens, que podem ser de Tawna ou dos vilões e que dão acesso, caso sejam coletados três deles na mesma fase, em níveis bônus. Neste caso, o jogo revela uma de suas fraquezas: o sistema de save. Para salvar seu progresso, você deve entrar nas fases bônus de Tawna e completá-las. Sem isto, nada de save e, caso tome um Game Over, o que pode ser muito comum perto do final do jogo, onde os níveis são mais difícieis, terá que voltar do último ponto salvo. Os tokens de Tawna não estão em todas a fases e passar os níveis bônus dela não é uma tarefa tão fácil assim. A Naughty Dog poderia ter proporcionado um melhor sistema de saves neste título. Claro que existe sua faceta de desafio e dá um certo ar de dificuldade, entretanto, pode se tornar frustrante ter que repetir fases apenas em busca de registrar seu progresso.

Quebrar o maior número de caixas possível (em outras palavras: todas) numa fase se torna imprescindível para o jogador ambicionar o caminho para o 100% em Crash Bandicoot. O final da fase nos mostra Crash num primeiro plano, um elogio e, caso tenha conseguido quebrar todas as caixas da fase, o presente é uma espécie de gema. Se fracassou, o jogo te mostra quantas caixas ficaram no meio do caminho. Há uma gema em cada fase, sejam as fases normais ou as secretas. As mais raras são as coloridas que servem para chegar a "caminhos adicionais", antes inacessíveis na fase ou, coletando todas as gemas (comuns ou raras) nos é permitido ver o final secreto do jogo. Passar a fase sem morrer também é necessário, portanto, a dose de desafio é considerável.

A variação de perspectiva dos cenários enriquece o trabalho feito pela Naughty Dog. Crash, por vezes, desafia o testamento dos jogos de plataforma tradicionais e nos entrega um híbrido de sua progressão natural (sempre em frente, em pespectiva vertical) com uma mudança repentina para o sidescrolling, tudo ocorrendo de forma bem suave. Depressões e rachaduras nos cenários, juntamente com armadilhas, testam nosso timing e põe à prova a mecânica de pulo do jogo baseada na sensibildiade ao apertar o botão determinado. Quanto mais forte é apertado, mais alto Crash salta. Alguns buracos dos cenários se apresentam de forma tortuosa, ou seja, não basta seguir em linha reta, pois também é primordial se movimentar lateralmente na posição certa para que o pulo saia perfeito. Isso nos é mostrado de forma simples, num primeiro plano da fase para então, em sua metade final, nos revelar sua faceta desafiadora, na qual um único vacilo pode significar a perda de uma vida.

O marsupial merece um parágrafo à parte. Desde a tela inicial, onde ele fica assustado devido ao logotipo do jogo vir em sua direção ou, até mesmo, quando paramos um pouco deixando o jogo em modo de descanso e vemos a animação dele jogar uma das frutas coletadas e esta cair em sua cabeça, tudo isto mostra o carisma esbanjado pelo até então mascote da Sony com sua cor alaranjada e seu cabelo penteado num estilo moicano despojado. Suas expressões faciais são hilárias. O levantar de sobrancelhas antes de montar num animal certamente fez muitos gamers, ainda em sua infância, soltarem gargalhadas. A Naughty Dog ainda nos mostrou, de forma inteligentíssima, como Crash poderia reagir diante do desempenho do jogador. Passe uma fase tranquilamente e ele, ao chegar no final dela, vibrará com todo seu vigor. Chegue no final de uma fase cometendo erros diversos e verá um Crash balbuciando um "ufffff" e passando o "braço" na testa como sinal de alívio.

Diversão é a palavra-chave de Crash Bandicoot. Certamente foi uma bela porta de entrada para o novato PlayStation mostrar que era capaz de dar aos seus consumidores títulos de qualidade em diferentes estilos. Coeso graficamente, com uma jogabildiade simples, porém desafiante, objetivos diversos ligados a itens, lamentamos que um personagem, que ajudou a impulsionar uma marca referencial hoje com suas 6, 5 milhões, aproximadamente, de unidades vendidas de seu jogo de estreia, não tenha um aproveitamento  digno do que já representou. Caso queira relembrar tudo isto, você pode comprar Crash Bandicoot na PlayStation Store, por meio da linha PSOne Classics e jogar no seu PlayStation 3.


Esperamos que tenham curtido essa estreia da Nostalgia PlayStation. Lembram da enquete? Demorou, mas veio, ou seja, sempre estamos ligados. Estaremos, sempre que possível, analisando jogos antigos, seja de PSOne ou de PlayStation 2, porém com uma dosagem, sempre respeitando e prorizando o conteúdo de jogos atuais que existem no mercado, mas, volta e meia, recordando de alguns que foram base para o que vocês vêm jogando hoje em seus PlayStation 3 ou PlayStation Vita. Até a próxima!

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