Campanha Play Like a Girl

Diariamente, somos bombardeados por notícias e relatos de mulheres dentro do universo gamer que sofrem para curtir o seu hobbie de maneira saudável. Muitas vezes, justamente por ser uma garota, há uma limitação da liberdade que impede de poderem jogar online, fazer streamings ou até mesmo compartilhar suas experiências.

Realizamos uma entrevista com a dupla Silvio Borges e Thiago Penteado, responsáveis pela Cooldown E-Sports n’ Burgers, uma hamburgueria situada em Curitiba, no Paraná, que oferece uma experiência completa para os gamers, incluindo eventos de jogos e campeonatos, espaço completo para e-sports e cabines para streaming. Recentemente, sediou o evento oficial de lançamento do jogo Far Cry: New Dawn, pela Ubisoft, com cardápios e drinks temáticos. Também iniciou a Campanha #PlayLikeAGril, a nível nacional, em parceria com a ONG Todas as Marias (que auxilia mulheres em situação de vulnerabilidade), e nos contou como é o projeto e a importância do respeito e participação do público feminino no entretenimento gamer.

Manu Tárrega: Como surgiu a Cooldown E-Sports n’ Burgers?

Silvio: O Thiago (CEO) idealizou um ambiente que o nerd tenha vontade de sair de casa! Não é só o gamer, de PC ou de console, mas também para que o amante de Arcades, board games e RPG tenha um lugar que se identifique para aproveitar. Toda a temática foi criada com referências em jogos, até mesmo o inventário (cardápio). Atualmente queremos que a Cooldown seja um clã, para que a pessoa que nos visita se sinta parte de algo, acumulando pontos de XP (fidelidade), para benefícios em toda a nossa estrutura.

Manu Tárrega: E a Campanha da representatividade feminina, #PlayLikeAGirl?

SIlvio: Fizemos a Semana do Dia Internacional da Mulher, no ano passado, vendendo bottons e camisetas junto da ONG Todas as Marias, que dá suporte e assistência às mulheres fragilizadas. Em novembro, pensamos em criar uma campanha a nível nacional, não só uma atitude durante o Dia Internacional da Mulher. Voltada não apenas às gamers, mas apontando os cinco tipos de possíveis violências a todas as mulheres: física, verbal, sexual, patrimonial e digital.

Thiago: Por menor que tenha sido a ação no ano passado, falar sobre isso foi suficiente para que algumas mulheres procurassem ajuda. Esse feedback que tivemos foi a motivação para fazer mais barulho, alcançar outras mídias influentes e parceiros para abordar o tema, e quem sabe ajudar mais mulheres. As camisetas oficiais são vendidas na Cooldown e online, com renda revertida para a ONG.

Manu Tárrega: Como foi a definição do nome da campanha?

Thiago: Usamos muitos termos em inglês aqui na Cooldown, e já existia a hashtag #FightLikeAGirl, e a frase “jogo é coisa de menina”. Optamos por escolher #PlayLikeAGirl, por ter um alcance maior, e ser uma hashtag popular.

Manu Tárrega: A Campanha já tem parceiros?

Thiago: Temos o apoio da EBANX, Avell Notebooks, HyperX Brasil e Geek Mob, que vende brincos aqui na Cooldown. Toda a renda será doada para a ONG Todas as Marias.

Manu Tárrega: Existe um público alvo para esta campanha?

Silvio: Todos aqueles que visitam a gente, que seguem nossas redes e que jogam aqui também. O tópico geral é a violência à mulher e estamos elaborando materiais institucionais, página e eventos junto à ONG para conscientizar mais pessoas. É mais fácil conscientizar o público jovem, que é nosso público. Às vezes, o cara tá jogando no rage, xingando no chat e em áudio, não percebe que do outro lado da tela pode ter uma garota, e mesmo de propósito. Esse comportamento pode até tirar uma menina do jogo, que acabou de chegar da escola, do trabalho, e quer se divertir jogando. O momento de lazer dela vira algo chato, de ofensa, que pode deixá-la fora de algo que gostava.

Manu Tárrega: Eu mesma já tive situações semelhantes, seja jogando bem ou mal, em grupo ou sozinha. Aprendi a não ligar, mas é chato :/

Thiago: A internet criou este mecanismo de bullying, parece que ofender é muito mais fácil, e o cara que faz isso pode nem perceber. Há esse distanciamento, essa falta de olho no olho, e a pessoa que ofende não vê a reação, e como a pessoa do outro lado pode ficar mal. É uma cultura tóxica em que é banalizado o companheirismo. Quando fazemos eventos competitivos, você não vê bullying, xingamentos, ofensas. Quando coloca um do lado do outro, isso não acontece como na internet. E a mulher vira vítima dessas atitudes, pois se passa isso online de forma gratuita, sendo que dificilmente vai tentar participar de algo presencial.

Manu Tárrega: Já aconteceu algo desse tipo com vocês, relacionado à participação feminina nos jogos?

Thiago: Joguei muito Smite (risos), e no cenário brasileiro tinha uma menina pro player. No primeiro jogo no circuito nacional, o chat foi um bombardeio de críticas, machismo, ofensas e comentários como “vai lavar a louça”. Tinha um cara que jogava comigo, e estava neste mesmo chat, no rage. Ele entrou no chat de voz no dia seguinte, e eu não perdoei:

– Cara, que merda você tá fazendo? Semana passada você estava dizendo que queria uma namorada gamer, e tá no chat ofendendo a player?

Poxa, na primeira chance que o cara tem de lidar com uma menina gamer, o cara faz isso! (risos)

Silvio: Lembra no colégio, na escola, meninos não falavam com as meninas porque era feio, era estranho? Parece que o gamer que faz bullying retrocedeu para esta época. Se esse cara estivesse aqui vendo ao vivo essa garota jogar, talvez ele tentasse dar em cima depois, e se ela dissesse não, ele poderia agir negativamente também. A rejeição vira uma vingança, e pode partir pra violência digital.

Manu Tárrega: Falando em participação, vemos por aí várias porcentagens do número de meninas x meninos gamers, como vocês vêem por aqui? A Cooldown faz recrutamento de times de e-sports mistos, como funciona?

Thiago: No e-sports a gente ainda tem algumas questões. Eu acredito que há muitas mulheres gamers boas por aí… Porém é muito maior o número de jogadores homens. Você tem uma base maior, e consequentemente mais homens jogando, mas deve ter também muitas mulheres gamers com qualidade que não foram encontradas, que não estão na mídia, ou que não entram nesse mundo por medo de como vai ser tratada. Aqui na Cooldown a gente foca em público misto, com campeonatos para qualquer um participar. Para os times, ninguém é discriminado, e não é levado em consideração o sexo, sim o fator gameplay. O número de mulheres foi bem baixo para as inscrições nos times, e também é menor nos torneios, mas incentivamos e fazemos eventos sazonais para atrair mais meninas, não apenas as namoradas dos caras que vêm pra jogar aqui. Falta mulher jogando, e talvez parte disso seja porque se sentem intimidadas.

Silvio: Outra questão é que muitas mulheres preferem times exclusivamente femininos a mistos, seja por querer se afastar de bullying, ou medo da pressão que pode existir.

Manu Tárrega: A Cooldown tem 2 telões que transmitem diversos campeonatos e torneios de pc e consoles ao redor do mundo. Vocês exibem também seletivas femininas?

Silvio: Sempre que possível, sim. Depende mais se a exibição está sendo feita pelos canais oficiais.

Manu Tárrega: Falando de e-sports, sabemos que é um universo muito maior no PC, mas vocês também trazem coisas para console, certo?

Thiago: Sem dúvida, o competitivo é muito maior para PC, com foco em MOBA e FPS. Agora, jogos de luta… Temos diariamente uma agenda de eventos, e fazemos diversos torneios voltados para console. Inclusive, temos Arcade com Mortal Kombat, por exemplo, e vendemos os jogos recém-lançados.

Silvio: Na sala de streaming, se o usuário quiser, ele pode usar PC ou console. Fazemos pacotes de live sob demanda, e ajudamos a configurar tudo que for preciso.

Manu Tárrega: Pra fechar, quais as novidades que vêm por aí, voltado para o universo PlayStation?

Thiago: Temos uma parceria muito legal da Ubisoft e Blizzard, as keys que temos usado nos jogos foram cedidas por eles, e sempre que sair algo novo estamos por dentro (pegou a dica?). Fizemos o lançamento oficial de Far Cry: New Dawn, com decoração toda temática, com cardápio especial…

Silvio: Fizemos até um hamburguer das irmãs Mickey e Lou, baseado no trailer que elas quebram tudo. Foi possível fazer um item no cardápio chamado “Capitão” e usar uma skin nos acrílicos das mesas. Planejamos receber mais oportunidades de sediar lançamentos oficiais. A Blizzard escolheu a Cooldown como sede oficial para eventos de HearthStone, ao longo do ano. Temos ainda a parceria com o Treta. No geral, temos os jogos recém-lançados pra galera conhecer e estamos finalizando uma parceria para trazer a empresa *** (não posso revelar a novidade!) mais próxima e fazer eventos oficiais.

O PSX Brasil apoia a Campanha #PlayLikeAGirl!

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