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Final Fantasy VII Remake – Review

Há algo de surreal em finalmente ter em mãos um jogo tão aguardado. A ideia de um remake de Final Fantasy VII, um dos mais importantes e influentes JRPGs de todos os tempos, tem sido ventilada de uma forma ou de outra desde uma das primeiras tech demos que vimos para o PS3, em que a simples ideia de reviver as aventuras de Cloud, Tifa, Aerith e tantos outros personagens que marcaram gerações de jogadores, era suficiente para nos tornar ansiosos pelo que o futuro reservava.

De alguma forma, o futuro chegou. Quase exatos 15 anos após aquele fatídico 16 de maio de 2005 quando a famigerada Technical Demo reconstruindo a abertura de Final Fantasy VII em HD foi mostrada, Final Fantasy VII Remake chega às nossas mãos, “exclusivamente” ao PlayStation 4, talvez não da exata forma como vários esperavam, mas mesmo com todos os percalços pelos caminhos, talvez ainda melhor do que se esperava.

A primeira notável diferença do Remake para o original é, naturalmente, o escopo da história. De maneira controversa, a Square Enix optou por dividir o Remake em vários jogos, cada qual focando-se em uma determinada porção da história original, privilegiando uma grande expansão do universo de FFVII, seus personagens, relacionamentos, motivações e a construção do plot e lore como um todo.

Final Fantasy VII Remake

Encarregado da tarefa de descobrir como melhor fazer isso, a Square Enix optou por colocar novamente o universo nas mãos de dois dos seus maiores talentos: Yoshinori Kitase, diretor e roteirista de FF7, e Tetsuya Nomura, co-roteirista e design de personagens no jogo. Ambos já haviam comandado a última “visita” que a SE fez aquele mundo, como co-diretores do Compilation of Final Fantasy VII, sendo os nomes mais indicados para comandar um projeto tão importante, em especial Nomura como diretor do jogo.

Mais conhecido pelo seu trabalho como a mente criativa por trás do enorme sucesso da franquia Kingdom Hearts e pelo bem conhecido fracasso que foi o seu comando do infame projeto de Final Fantasy Versus XIII/Final Fantasy XV, até a sua saída para se dedicar a Kingdom Hearts 3 e FF7R, Nomura em especial parece a pessoa certa para assumir o projeto e é inegável o sucesso encontrado aqui.

Por mais confusa que a história de KH consiga ser ao longo dos seus vários jogos, é um belo exemplo do quão bem o seu diretor é capaz de criar mundos e histórias com personagens carismáticos e marcantes, algo que reflete o principal objetivo do projeto do Remake: reinventar a história de Final Fantasy VII e expandir o seu universo e trazer uma nova jornada que seja tanto familiar quanto nova.

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E, nesse aspecto, o jogo acerta na mosca. Apresentar um jogo completo em Midgar, uma área que mal representava 25% do jogo original, pode parecer um absurdo para os fãs familiarizados com a obra de 1997, mas logo fica claro que a estrutura antiga não existe mais aqui. Há uma clara sensação de se estar conhecendo uma nova jornada desde o começo, mesmo que em alguns pontos ela lembre algo com o que você estava familiarizado.

O jogo começa do mesmo jeito que o original, com os jogadores assumindo o controle do mercenário Cloud Strife, um ex-SOLDIER (divisão de soldados de elite da Shinra Corporation, uma empresa gigantesca com braços em vários aspectos da vida em Midgar) contratado pelo grupo terrorista Avalanche para ajudar a sabotar um reator de energia movido a base de Mako, a essência básica da vida no planeta que está sendo drenada para gerar energia elétrica para as pessoas além de abastecer outros interesses da Shinra.

É do ponto de vista de Cloud que o jogador passa a conhecer os membros da Avalanche: Jessie, Wedge e Biggs, e o líder do grupo, Barret Wallace, o que só ocorre graças à 5ª integrante do grupo, a bartender do bar (e base de operações) Sétimo Paraíso, a amiga de infância (e interesse amoroso) de Cloud, Tifa Lockhart. Cloud aos poucos vai se vendo mais envolvido com as ações do grupo (sempre por um bom pagamento), passando a entender a motivação por trás de cada um deles ter se juntado à causa.

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É claro, o próprio Cloud não é livre de mistérios, muito pelo contrário. Com a própria Tifa não sabendo o que realmente aconteceu com o seu amigo (e crush) durante os 5 anos em que ambos ficaram afastados desde que saíram da vila de Nibelheim até o seu reencontro no Setor 7 de Midgar, o jogo faz um ótimo trabalho em construir esses mistérios para o jogador também, tanto por Cloud se recusar a falar sobre, quanto pelos ocasionais flashbacks que ele tem e que aos poucos vão fazendo mais sentido para o jogador.

Esses mistérios vão começando a fazer sentido ao longo do jogo, ainda que muitos deles fiquem em aberto para os próximos jogos do remake. Muitos deles envolvem figuras misteriosas do passado do Cloud, em especial um certo herói de guerra conhecido como Sephiroth e as aparições que ele faz apenas para o ex-SOLDIER, mesmo sendo considerado morto em um acidente há muito tempo.

Junte a isso misteriosas figuras de aparência adoentada e encapuzadas com números gravados em seus braços e fantasmas etéreos também encapuzados (a paixão do Nomura por personagens de capuz preto não passa despercebida) e temos um trabalho incrível tanto em recriar mistérios antigos quanto criar novas linhas de intriga para manter os jogadores interessados. Cada ponto importante da história original é recriado perfeitamente e conta com novos detalhes que os tornam ainda mais significativos e deixam o jogo ainda mais especial.

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Ainda assim, o grande mérito da história do jogo não está nisso, mas em quão bem construídos os personagens são. Enquanto o arco principal desse jogo é conhecido para os fãs de longa data de FF7, a esmagadora maioria das interações entre personagens são novas e dão muito mais vida ao mundo e aos seus habitantes, fazendo com que Midgar pareça uma cidade viva e seus habitantes pessoais reais, com sonhos e motivações.

Isso é especialmente gritante no que se refere aos membros da Avalanche. Jessie, Wedge e Biggs se tornaram personagens extremamente bem desenvolvidos, com a Jessie em especial sendo um dos pontos mais brilhantes desse Remake. O relacionamento de Cloud com a Tifa e a Aerith evolui muito e ambas apresentam ainda mais os traços de personalidade que as tornaram icônicas, fazendo você se apaixonar ainda mais por personagens que já eram extremamente queridos. Barret se solidifica ainda mais como o líder revolucionário que ele é e Red XIII traz a sua própria personalidade única para o jogo.

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Mas, mais do que qualquer outro, Cloud é o personagem que mais se beneficia da expansão da sua história. Ele continua sendo o mesmo ex-SOLDIER calado e estóico, mas há um cuidado muito grande em mostrar o quanto ele vai evoluindo através do convívio com seus companheiros e até mesmo os vários momentos em que ele está sozinho, com as ações dele sendo ainda mais motivadas e rendendo momentos incríveis tanto para novos jogadores quanto fãs de longa data.

Um ponto que talvez venha a causar uma certa polêmica em relação a história é o quão linear o jogo é. A história é dividida em capítulos e há muito pouca exploração a ser feita livremente, com os cenários sempre contando com um caminho principal e algumas áreas para coletas de itens ou matérias, mas não há grandes cenários abertos para o jogador explorar a seu bel prazer.

Isso não quer dizer que não existem missões secundárias, mas elas estão contidas a capítulos específicos (os Capítulos 3, 8, 9 e 14) e não existe uma grande variedade delas, com quase todas se tratando de ir a um determinado lugar derrotar um inimigo especial, falar com certas pessoas e obter certos itens ou os minigames que o jogo tem à disposição.

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Ao total, são 26 missões secundárias, com 2 não podendo ser cumpridas a depender de uma decisão específica no Capítulo 9, o que não representa uma quantidade muito grande, mas o que é compensado pela qualidade da escrita do roteiro nessas missões, ainda que elas realmente não sejam nem um pouco fundamentais ou acrescentem algo de notório a história do jogo.

Ainda assim, a campanha principal dura pouco mais de 30 horas, chegando perto das 40h se você fizer todas as missões secundárias e minigames, com a platina demorando perto das 80-90h, já que é necessário rejogá-lo em uma nova dificuldade. O único ponto da história que mereça críticas talvez sejam as seções envolvendo as perseguições de moto que acabam deixando a desejar, mas não são nada muito significativo ou que influencie de verdade o produto final (sendo uns 30 minutos, no máximo).

Um ponto específico que precisa ser apontado para os jogadores brasileiros é a alta qualidade da localização em português brasileiro. O jogo está todo legendado em português, com os menus todos traduzidos e os nomes de monstros, locais, itens e magias todos adaptados ao nosso idioma de forma bem interessante. Porém, não é isento de erros, como alguns nomes de personagem em sua versão japonesa (enquanto as vozes o chamam pelo nome em inglês) ou erros de gênero ao se referir a um personagem.

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Apesar desses erros e da falta de dublagem, houve um grande cuidado em permitir aos jogadores brasileiros entenderem a história, com apenas algumas escolhas na tradução talvez não tendo sido as melhores possíveis, mas nada que afete o melhor proveito do jogo, ainda que incomode.

Por um outro lado, talvez a grande modificação em relação ao original seja o sistema de combate. FF7 é famoso pelo seu sistema de combate por turnos mais “ativo”, criado através da introdução da Active Time Bar, a ATB (ou BTA, Barra de Tempo Ativo, na localização em português). FF7R pega esse sistema e o muda completamente para torná-lo um RPG de Ação, mesmo que ainda mantenha algumas coisas do original.

As batalhas giram em torno de três sistemas em especial. O jogador pode controlar qualquer um dos membros da equipe (cada capítulo traz uma combinação distinta entre Cloud, Tifa, Barret e Aerith) em combate (durante a exploração, o jogador sempre comanda Cloud), com cada personagem tendo um ataque simples com quadrado e uma habilidade única com triângulo e que funciona de forma diferente.

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Em relação a essas habilidades no triângulo, Cloud muda de forma de combate, Tifa tem um ataque especial que aumenta a barra de atordoamento, Barret tem um ataque especial que precisa ser carregado após usado e Aerith um ataque especial que se torna mais forte quanto mais o jogador segurar o botão. Saber como usar esses ataques especiais nos momentos certos e quando alternar entre os personagens é uma das principais chaves para a vitória.

A outra grande chave é como usar a ATB/BTA da melhor forma possível. À medida que o jogador vai atacando, sofrendo dano ou controlando um personagem, a barra vai enchendo e conforme um dos seus segmentos é preenchido (são dois por padrão, mas há formas de dividir a barra em três) é possível usar itens, magia ou habilidades especiais (algumas delas precisam de dois segmentos para serem usados).

Isso não se aplica só ao personagem controlado pelo jogador, já que os outros membros da equipe também vão carregando suas barras e podem tanto agir independentemente ou você pode decidir o que fazer, acessando os seus respectivos menus com L2 e R2. Isso oferece um acesso rápido a toda uma vasta gama de habilidades com todos os personagens que estão em combate.

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Usar essas opções é fundamental, já que o combate contra inimigos mais poderosos gira em torno de preencher a barra de atordoamento deles para então causar mais dano. É um sistema que funciona muito bem e traz uma ótima sensação de ação ao jogo, mas que consegue evitar a constante sensação de repetição que estava presente em Final Fantasy XV e estabelecendo o padrão a ser seguido e melhorado pelos próximos da série daqui pra frente.

Por fim, o jogador também tem acesso a ataques especiais chamados de Limites Especiais (ou Limit Breaks em inglês), que causam grande quantidade de dano (como o icônico OmniSlash do Cloud) e a matérias de invocação, sendo possível trazer à batalha algumas das criaturas mais famosas da série, como Ifrit, Shiva e outros.

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É claro, como todo bom JRPG, FF7R também conta com um sistema de progressão de personagens, ainda que um pouco distinto do que o jogador talvez imagine à primeira vista. Ao invés de dar ao jogador a possibilidade de melhorar diretamente as estatísticas de cada personagem, o foco aqui é em melhorar as suas armas, o que traz uma série de bônus para os atributos dos personagens.

Enquanto cada um dos membros da equipe seguem um estereótipo (Cloud e Tifa são os personagens de ataque físico, Barret é um tanque mais equilibrado e a Aerith é a tradicional usuária de magia), o jogador vai ganhando novas armas ao longo dos capítulos e pode usar Pontos de Habilidade para destravar melhorias dentro de um grid específico de cada arma (os pontos ganhos são distribuídos para todos os equipamentos atuais e novos equipamentos sempre vem com a quantidade de PH que você destravou até ali).

Esse sistema funciona como uma forma do jogador estar constantemente trocando de equipamento e evoluindo-os, algo bem importante porque cada nova arma possui uma habilidade única dela e que só pode ser aprendida após o constante uso em batalha. Após preencher essa barra, o jogador fica livre para usar a habilidade com qualquer outro equipamento que lhe convir.

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Por fim, outro sistema de evolução presente se refere às Matérias, equipamentos que podem ser encaixados nas armas e armaduras e dão acesso a novas magias e habilidades para o jogador. Quanto mais batalhas o jogador lutar com uma certa Matéria equipada, mais Pontos de Atributo ela ganha até subir de nível e desbloquear novas habilidades ou melhorar a habilidade vinculada àquela Matéria. Por exemplo, quanto mais o jogador lutar com a Matéria de Fogo e Cura, logo ele destravará Fogo+ e Cura+, respectivamente.

É aqui também que os dois sistemas se ligam, sendo possível desbloquear mais espaços para Matérias ou vincular dois espaços evoluindo as suas armas através do uso dos PHs que o jogador ganha ao subir de nível. É um sistema um pouco complexo de se explicar, mas que se torna bem intuitivo à medida que o jogador vai progredindo e logo você terá total domínio sobre ele.

Um último ponto que precisa ser tocado diz respeito aos aspectos técnicos e talvez seja aqui o tropeço mais notório de FF7R. Ao iniciar o jogo, logo fica claro o quão belos os modelos de personagem são (o primeiro encontro com a Tifa talvez seja o mais marcante nesse aspecto) e o quanto foi dedicado um enorme esforço em tornar cada cenário único, diverso e bonito. Midgar parece viva, cheia de pessoas (ainda que não tão belas quanto os personagens mais importantes) e há uma verdadeira sensação de se estar explorando lugares novos e grandiosos.

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E, não importa se você estiver jogando no PS4 ou no PS4 Pro, o jogo é um espetáculo visual seja fora de batalha ou (especialmente) em combate, com partículas voando para todo lado, sendo um verdadeiro show extremamente agradável. No entanto, a câmera fica em constante movimento e atrapalha o jogador em combate, algo que é minimizado ao travar em certos inimigos, mas que nunca realmente funciona a contento.

Por outro lado, mesmo no PS4 padrão, o jogo conta com a quantidade bem limitada de loadings e, quando existem, eles são consideravelmente rápidos, em especial no PS4 Pro. Em geral, o jogo só carrega mesmo no início dos capítulos ou caso você morra, mas nunca o mantém muito tempo esperando. Talvez por causa disso, o problema mais gritante são as texturas carregando aleatoriamente (ou nem mesmo carregando) e tirando um pouco do espetáculo visual que FF7R é.

Por fim, um outro aspecto visual que precisa ser destacado é o quão bela a apresentação do jogo é. Os menus são simples do jeito certo e visual instigantes, a HUD do jogo é bem limpa e funcional e o jogo traz com imenso sucesso os pontos mais marcantes das suas cutscenes, com uma apresentação cinematográfica digna do quão sensacional a obra é (a apresentação dos Turks se torna ainda mais especial por isso).

Mesmo com alguns pequenos problemas, no geral, Final Fantasy VII Remake é um acerto gigantesco. Não só os momentos mais icônicos dessa primeira parte da história estão presentes (com todos os exageros, paixão e sinceridade que uma celebrada obra japonesa precisa), mas o jogo expande com sucesso em todos os seus aspectos, tornando dessa transformação de FF7 de um jogo em uma série um sucesso inicial estrondoso e que só nos deixa mais ansiosos pelas próximas etapas.

Final Fantasy VII Remake

Jogo analisado no PS4 padrão com código fornecido pela Square Enix.

Winz.io

Veredito

Apesar das grandes expectativas em torno de si, Final Fantasy VII Remake consegue superá-las e entregar uma incrível reimaginação do mais importante JRPG de todos os tempos, com uma experiência fantástica tanto na sua história quanto nos campos de batalha que deverá agradar a velhos e novos fãs.

95

Final Fantasy VII Remake

Fabricante: Square Enix

Plataforma: PS4

Gênero: Ação / RPG

Distribuidora: Square Enix

Lançamento: 10/04/2020

Dublado: Não

Legendado: Sim

Troféus: Sim (Inclusive Platina)

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Veredict

Despite the huge expectations around it, Final Fantasy VII Remake manages to exceed them and deliver an incredible reimagination of the most important JRPG of all time, with a fantastic experience both on its story and on the battlefield, that should please both new and old fans alike.